segunda-feira, 28 de abril de 2008

Impressões sobre a Virada - 3

TRILHA SONORA DA MINHA VIDA
A música que resume meus anos de 2005 e 2006 se chama "Me deixa em paz", do compositor Monsueto. Grande ponto alto do domingão, cantada pela Thalma de Freitas pra fechar o show da Orquestra Imperial. O refrão é sensacional:
Se você não me queria
Não devia me procurar
Não devia me iludir
Nem deixar eu me apaixonar
Ano passado, cheguei à conclusão de que Wander Wildner resume o sentido da vida em "Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro", que já diz tudo. Ele não esteve na Virada, mas continua uma inspiração.
E agora acho que descobri o hino de 2008: "Deixa foder", do Cachorro Grande. Tava passando na frente do show meio sem querer, não lembrava bem que banda era. Aí ouvi um hit e lembrei que é a banda gaúcha com um vocalista de voz fina estranha. Os caras tavam muito empolgados, foi bem legal. E tem essa nova música, que não consigo achar a letra, mas revela o meu momento.

Impressões sobre a Virada - 2

CONVERSA FURTADA
No show da Marina de la Riva, dois amigos conversando, o cara fala para a menina:
– O problema é a expectativa de vocês. Quando a gente fica com alguém e tá bom, a gente pensa: "Ah, vamos ver onde isso vai dar". Quando vocês ficam com alguém, pensam: "O primeiro vai ser Vandercleison, a segunda vai ser Vanderléia".

Impressões sobre a Virada - 1

A MINHA VIRADA EM NÚMEROS
Horas: 13
Horas em pé: 11
Shows inteiros assistidos: 5
Investimento: R$ 38, incluindo um almoço de verdade no Gato que Ri
Álcool consumido: zero
Aditivos químicos: dois Dorflex
Prejuízo material: zero
Prejuízo físico: dores generalizadas, devidamente aplacadas com os Dorflex
Músicas deprê favoritas tocadas: 5
Pontos altos: Thalma cantando o Monsueto e Roger cantando "Sheena is a punk-rocker"
Melhor show como um todo: Orquestra Imperial
Melhor solução: DJ de techno na bolha suspensa
Pior localização de palco: sambão espremido e em lugar de passagem na Sta. Ifigênia
Pior discriminação: galera largada no Parque D. Pedro, e ainda tendo de ser revistada
Saldo geral: positivo, acima da média, sensacional, quero mais

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Flores astrais

Quando eu tinha 4 anos, minha melhor amiga era a Tia Rosa, mulher do zelador do prédio com vista para a favela de Heliópolis onde eu morava. Todo dia, quando eu chegava da escola, dava uma passadinha na casa dela. Lembro perfeitamente dos beliscões que ela fazia, aquele biscoitinho recheado de goiabada.
Lembro do dia em que descobrimos que eu estava com meningite. Cheguei da escola, subi para a casa dela e dormi. Ela achou estranho, porque eu estava sempre correndo pra lá e pra cá, e falando sem parar. Meu pai sabia que a epidemia estava rolando, porque trabalhava em jornal. Mas nem todo mundo sabia, porque a ditadura censurava. Fui na hora pro hospital e lá fiquei uma semana. Acho que a Tia Rosa me salvou.
Outra coisa que me lembro especialmente foi do dia em que ela começou a me falar sobre a igreja que freqüentava. Ela disse que um dia estava ali naquele terraço, coisa típica de apartamento de zelador, encarapitado lá em cima no prédio, e o céu se abriu.
– O céu se abriu e foi como se aparecesse uma janela e do outro lado tinha muitas, muitas flores.
Acho que depois ela falou de alguma voz, mas só o que ficou foi a imagem daquelas flores, num quadrado no meio do céu. Pra mim eram flores cor de anil, em várias tonalidades, grandes. Sempre quis que o céu se abrisse para mim...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Post visceral

Quando eu acho que finalmente vou começar a gostar de "Julie & Julia", lá vem a decepção. Finalmente tinha encontrado um ponto em comum entre nós: o fígado. Minha boca encheu de água com a receita de fígado com mostarda que ela descreve. E a maneira como ela diz que o fígado é acolhido pelas nossas papilas gustativas, hum, quase sexual. Aliás, nesse trecho ela vinha fazendo uns paralelos muito interessantes entre sexo e comida que também me fizeram dar um desconto. Mas não, logo em seguida lá vem ela meter o pau na repartição pública onde ela trabalha. Que mala!
Tô demorando tanto pra ler esse livro que vai ver que é esse o meu carma e quando chegar ao final, terei a iluminação que procuro.

Não é normal, eu sei, mas eu realmente gosto de fígado. Uma vez declinei um convite para almoçar na casa da minha mãe no domingo porque resolvi cozinhar fígado à veneziana (picadinho, com muita cebola) e creme de espinafre (quase sem creme, com noz moscada). Hummmm... adoro!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Betties e Lizzies

O cara escolhe uma cantora de jazz, que não é minha favorita mas é cool. Nas capas dos discos ela parece muito melhor, mas no filme, de cara lavada e mostrando os quadris, parece irmã da Betty, a Feia. Isso está longe de ser um problema, eu adoro a Betty.
Wong Kar Wai manja de dor de cotovelo. Ele sabe que quando se está mal por causa de alguém, deixa-se um Jude Law pra trás. O filme é cheio de mim porque sou eu que escrevo cartas, ou e-mails intermináveis. Eu que me sinto uma chave que não vai mais abrir portas, esquecida no jarro. Ou o último pedaço de torta de mirtilo (é blueberry , em português). Eu que preciso ir, mas não vou.
E ele ainda a coloca contracenando com divas, para que possa chegar à conclusão de tem gente que nunca vai aprender a ser canalha e é bom que isso não seja um problema.
Cris manda me avisar que se eu largar um Jude Law aqui pra ir comprar um carro no interior do Ceará, ela vai me buscar. Nem que seja a pé. Vamos dizer que largar um Jude Law salvaria minha vida. Ter um Jude Law me esperando garantiria vida eterna.
Levei dois dias processando, ainda não escrevi o que gostaria. O filme acabou fiquei triste-feliz, mas só saiu isso mesmo. O crítico Luiz Carlos Merten também ficou nas nuvens. Ó o que ele diz.

domingo, 20 de abril de 2008

Mergulhar é preciso

Meio sem querer, meio de propósito, estou cercada de histórias de pessoas que tiveram um ponto de virada, uma crise profunda e dali reinventaram suas vidas.
Minha vida não é uma droga. Sob todo e qualquer ponto de vista objetivo, tá tudo ótimo. Faço o que gosto, tenho grana suficiente (mais do que a média, nunca sobrando), tenho amigos (muitos) sensacionais. Mas a imagem que me vem à cabeça agora é a de que fui até o fundo do poço, bati lá embaixo, e voltei machucada e sem ar, tentando acima de tudo sobreviver. Beleza. Tô viva.
Agora, parece que tenho que voltar lá, de uma forma controlada. Vestir uma roupa de mergulho e ir procurar alguma coisa que me escapou. Tenho medo de poucas coisas e o que vou encontrar no caminho, ou mesmo lá embaixo, não me dá medo. A sensação de ter de mergulhar é que não me atrai. Pensar em respirar por um troço na boca tendo muita água em cima é algo que nunca quis experimentar.
Bom, voltando às histórias. Primeiro foi "Comer, rezar, amar", o livro da jornalista que tirou um sabático depois de uma separação sofrida. Agora estou lendo "Julie & Julia", de uma americana que surta e resolve preparar todas as receitas da Ofélia americana e escrever num blog. O livro é mala, não estou achando graça nenhuma, talvez o blog fosse melhor. Mas o fato é que a tipa surtou e passou um ano fazendo receitas cheias de manteiga e creme de leite, enquanto se via às voltas com canos que vazavam ou entupiam, e tirando sarro do próprio emprego, que era numa repartição pública voltada para ajudar parentes das vítimas do 11 de setembro. Não exatamente o emprego do qual eu tiraria sarro, mas enfim.
E ontem mais assunto pras minhas divagações. Fui assistir "Irina Palm", que mais ou menos tem o mesmo tema. Uma cinqüentona inglesa, louca pelo neto, quer arrumar dinheiro pra ajudar o filho a levar o menino para um tratamento na Austrália. Durangos classe média, já gastaram fortunas com o menino e não têm mais de onde tirar grana. Meio desesperada, mas com toda a fleuma inglesa, ela vê um anúncio de emprego num puteirinho fuleiro em Londres. O emprego era de punheteira - o cara mete o pinto num buraco e a mulher, do outro lado, bate uma. O dono do puteiro vê potencial nas mãos macias de Maggy e decide lhe dar uma chance. Em pouco tempo, ela vira a maior punheteira do lugar e cai nas graças do sujeito. O engraçado é que a atriz é a Marianne Faithfull, a cantora drogadita da década de 70, que teve um caso tórrido com o Jagger.
O filme é pra ser um drama, tem cenas hilárias, mas achei revelador. Nada literal, porque bater punheta, definitivamente, não é uma das minhas especialidades. Mas alguma outra coisa além da minha profissão eu devo saber fazer. E, se não for pedir muito, preferia continuar não tendo que entrar pra nenhum rebanho.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Se Anália não quiser ir, eu vou só (na Virada Cultural)

Falta só uma semana para o momento anual mais importante da paulistanidade. Se existe alguma coisa que me dá alegria de viver, que me faz esquecer as palhaçadas da vida cotidiana e achar que, vá lá, existe alguma coisa que vale a pena, é a Virada Cultural.
Para uma pessoa como eu, que nasceu às margens do Ipiranga como a Independência (não vamos entrar em detalhes históricos patéticos, por favor), e que ama esta porra desta cidade, não existe evento mais incrível. Milhares de pessoas nas ruas do Centro, correndo de lá para cá, se encontrando na rua, tendo a oportunidade de ver dezenas de shows e espetáculos grátis, tudo ao mesmo tempo.
Ano passado encontrei meu amigo Walter na Praça Dom José Gaspar, onde vários pianistas tocaram para uma platéia de casais sessentões, devidamente acomodados em cadeiras. O som de ótima qualidade, a ambientação, tudo. Walter mora na cobertura de um prédio na Duque de Caxias, em frente à Sala São Paulo. Pode haver melhor companhia para percorrer as ruas do Centro do que um verdadeiro local?
Depois do pianinho, vimos um trecho de espetáculo infantil. Eram oito da noite e muitas crianças brincavam com os palhaços. Depois, percorremos as travessas que foram destinadas à música eletrônica e ao rock. Demos um rolê pela Sé, antes do show que deu briga, atravessamos o Viaduto do Chá - e passamos pela fila monumental para as atrações do Municipal.
Descemos para o Anhangabaú pra ver Clube do Balanço e Erasmo Carlos, um show incrível, lotado, uma lua sensacional, aqueles prédios em volta, e o cara emocionado de verdade de estar ali. O Clube do Balanço, que só tocava em boates, nunca tinha visto tanto público, mandaram bem.
Paramos para reabastecer no Ponto Chic do Paissandu, ali no fundo das Grandes Galerias. Tava lotado, mas logo um amigo do amigo nos colocou pra dentro e pudemos comer um bauru. Aí atravessamos a Praça da República, cheia de grupos de teatro e com uma iluminação que eu nunca tinha visto. A galera sentada no pé das árvores, batendo papo, parecia uma praça de interior.
Chegamos então no baile da saudade/gafieira armado na esquina da Vieira de Carvalho com a rua Aurora, lugar do coração onde trabalhei ano e meio. Um ambiente de boate foi montado bem no cruzamento, com chão quadriculado preto e branco e globo de espelhos. Tinha acabado o show do Cauby com a Angela Maria, mas logo começou uma banda de salsa cubana, do sobrinho do Ibrahim Ferrer, um dos velhinhos do Buena Vista Social Club. Casais gays e héteros dançavam juntinhos, uma galera mais nova pulava em volta do tabladinho, o clima tava muito bom.
O show acabou quase quatro da manhã. Voltei de metrô com um pessoal que conheci ali, morrendo de feliz. No dia seguinte, ainda fui no Parque Vila-Lobos duas vezes assistir concertos, que rolaram o dia inteiro.
No jornal de segunda-feira, tudo que tinha saído era a briga que deu no show dos Racionais. Soube por uma amiga jornalista de uns bastidores que mostram bem como funciona a "coisa". Praticamente nenhum veículo de imprensa cobriu o evento. Vi vários fotógrafos de jornal, mas não tinha mesmo equipes de TV. Parece que uma jornalista que estava com a própria câmera gravou a briga e foram essas as únicas imagens existentes do evento. É claro que quem não foi achou que a noite foi uma grande pancadaria.
No dia seguinte, um amigo meu que também apostou no evento escreveu um e-mail sobre a noite dele, que foi parecida com a minha. Azar de quem tem medo, uma lástima. Só vão saber da parte ruim, se existir. Se não acontecer nenhuma tragédia, ninguém vai saber de nada.
Mas vamos ao que interessa: este ano tem a Cesária Évora, várias cantoras que eu gosto no palco das meninas, vai ter a gafifa de novo na Vieira, o pianinho, dança, mais um monte de coisa. No palco do rock, a banda mais paulistana de todos os tempos, Ultraje, a galera do rap tem Afrika Bambaata no Palácio das Indústrias. Nem vou falar mais que tem a programação completa no site. Mas tenho que puxar a sardinha pro nosso lado e dizer que o pessoal do Festival de Curtas armou uma programação sensacional de curtas, que vão ser exibidos numa mega tela em frente ao Municipal. Meio que o que rolou na abertura do 15º Festival, quando as pessoas ficaram vendo filmes sentadas na escadaria, que funcionou como uma arquibancada.
Bom, eu chego sábado no final da tarde, sem hora pra sair. Afinal, a Orquestra Imperial só toca na tarde de domingo, né?

quinta-feira, 17 de abril de 2008

One is the loneliest number

Ainda em fase de digestão de My Blueberry Nights, do Wong Kar Wai. Não consigo começar por nada menos metido do que o fato de ter achado que ele fez o filme pra mim, então vou precisar processar um pouco mais.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Tudo que é muito, é demais

Raquel, sempre ela, me levou pra ver o Cirque du Soleil. Achei um tantinho de Fellini ali e gostei. Meio macabrinho nos figurinos, me pegou mais do que o espetáculo anterior. Tinha um quê de circo freak, duas meninas chinesas contorcionistas pareciam as siamesas de Peixe Grande , do Tim Burton, uma aflição.
Os palhaços, pra variar, custaram a me arrancar um risinho nervoso. Tem interação com a platéia eu já me encolho e tremo. O pobre homem pinçado do meio da platéia perdeu o rumo, não achava o lugar de volta, teve de ser resgatado pela mulher em meio às gargalhadas do povaréu, de que povo não tinha nada. Engraçado ver o desfile de grifes pra ir ao banheiro de obra montado ao ar livre.
Eu admiro, acho incrível o que aquelas pessoas são capazes de fazer com o corpo, as roupas, as músicas. É lindo. Lindo demais. Perfeito demais.

Festa do pijama

Semana passada minha querida Raquel fez aniversário e mais uma vez nos reunimos na casa dela, onde sempre acontecem as festas mais gostosas. Vez por outra, aparece a Cris - no primeiro ano de faculdade éramos nós três, inseparáveis. Cris apareceu e, como diz a Raquel, quando nos juntamos as três sai faísca. Não coube toda essa fagulhada numa noite só, estamos em abril, tava virando são joão.
Pra continuar a celebração dos nossos encontros esporádicos, resolvemos fazer uma festa do pijama. "Xi, gente, fim de semana não posso que tenho espetáculo na hora do almoço", disse a Cris. É bom que se diga que ela é atriz e diretora de teatro, fugiu logo do jornalismo, assim como a própria Raquel. Ótimo.
Então quarta-feira saio de casa de mala e cuia, travesseiro e cobertor. Passei no mercado que a cozinheira sou eu, peguei a Cris e lá fomos pra casa da Raquel. Fiz uma sopinha de mandioquinha com alho-poró e nos pusemos a assistir Shortbus, filme que já comentei aqui. Adorei de novo, elas também gostaram. Falamos, faiscamos, comentamos o filme. Fomos dormir às 3 e tanto, exaustas. Faltou só a noite estar clara, pra gente mostrar Saturno pra Cris.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Qual é o seu sonho?

Alma portenha

Semana passada minha aula de variedades lingüísticas e cultura dos países que falam espanhol foi sobre a Argentina. A professora, argentina que vive no Brasil há cinco anos, fez várias comparações entre a alma argentina e a brasileira, com muita ponderação.
Pra resumir muito mesmo, os argentinos (especialmente os portenhos) têm esse espírito mais belicoso e uma vontade incontida de sofrer, além da arrogância e da auto-estima quase risíveis de tão grandes. Eles têm o tango, nós temos o samba. Eles acham que lá tudo é melhor, nós achamos que tudo que é estrangeiro é melhor. A conclusão geral foi que os argentinos precisam sair de lá pra descobrir que eles não são o melhor país do mundo, e nós precisamos sair daqui pra descobrir que somos muito melhores do que pensamos.
Eles têm Cortázar, e Cortázar é isso:

Instruções para dar corda no relógio
Lá no fundo está a morte, mas não tenha medo. Segure o relógio com uma mão, pegue com dois dedos o pino da corda, puxe-o suavemente. Agora se abre outro prazo, as árvores soltam suas folhas, os barcos correm regata, o tempo como um leque vai se enchendo de si mesmo e dele brotam o ar, as brisas da terra, a sombra de uma mulher, o perfume de um pão.
Que mais quer, que mais quer? Amarre-o depressa a seu pulso, deixe-o bater em liberdade, imite-o anelante. O medo enferruja as âncoras, cada coisa que pôde ser alcançada e foi esquecida começa a corroer as veias do relógio, gangrenando o frio sangue de seus pequenos rubis. E lá no fundo está a morte se não corremos e chegamos antes e compreendemos que já não tem importância.

(em Histórias de Cronópios e de Famas)

terça-feira, 8 de abril de 2008

Placebos emocionais

Por falar em placebo emocional, vou tentar explicar esse conceito por mim desenvolvido com um exemplo. Sabe aquele filme com o Jack Nicholson e a Helen Hunt, "Melhor é impossível"? Tem o Greg Kinnear, que faz papel de um gay.
Lá pelas tantas, o coração do Jack Nicholson tá começando amolecer e o casal to-be arma uma viagem para levar o Kinnear à casa dos pais. No meio do caminho, o Jack Nicholson pisa na bola, seguindo seus instintos masculinos mais baixos, e ela é obrigada a se refugiar no quarto do cara que se revela um dos melhores placebos emocionais da história.
O cara não só dá o colo que ela precisa, como levanta horrores a auto-estima dela e ainda a faz morrer de rir. Veja se não é um exemplo crasso de placebo emocional. E não é nada além disso, porque ele não está interessado nela e ela sabe que daquele mato não sai coelho. Mas tudo bem, porque funcionou num momento específico e pode ser que nem role de novo.
Em geral, os placebos da vida real não são tão completos assim. Eu preciso de vários para suprir uma série de necessidades que vão além da amizade. Os amigos em geral suprem minha carência de ombro para chorar as pitangas, companheiros de balada e cobaias para a minha comida.
Mas os placebos ocupam funções muito particulares. Por exemplo, um amigo gay às vezes ia dormir em casa quando não tinha como voltar de festas. Aí como só tinha espaço na minha cama, a gente dormia junto e eu acordava 50% mais feliz, como se tivesse dormido com um namorado, porque a gente ficava conversando até de madrugada sobre a vida, o universo e tudo o mais e isso me é praticamente 50% da alegria de ter um homem pra chamar de seu.
Depois tem aquele placebo a quem você pode recorrer com intenções mais sórdidas, a coisa acontece e cada um vai embora sem maiores. Não rola constrangimento, tudo se resolve ali mesmo e os dois deitam a cabeça no travesseiro e dormem, cansados, não importa se juntos ou separados.
Só pra ressaltar: o cara cumpre um papel que pode interessar só a você, curte junto e só. Em outros momentos, você pode ser amigo dessa pessoa e desenvolver atividades mutuamente agradáveis. Mas os placebos emocionais são, em última análise, funcionais. E, por princípio, não costumo dormir com meus amigos.

Sê bem-vinda

Estou aqui toda feliz porque amanhã minha terapeuta volta de férias, depois de um mês e meio viajando pela Europa e Índia. Acredito que me comportei muito bem nesse período. Mas vai ser bom reencontrá-la, porque minha vida sentimento-emocional, que passou o ano passado inteiro mais árida que o deserto de Sonoma, está toda agitadinha este ano.
O saldo não foi tão positivo, mas pelo menos estou me divertindo um pouco, sem grandes fritações mentais. Pra resumir, vou contar pra ela que:
- tive uma recaída com meu placebo emocional primordial, o que foi ótimo;
- fiquei sabendo que um antigo prospect um pouco mais velho do que eu está namorando uma banqueteira famosésima muito mais velha do que eu, o que me gerou sentimentos contraditórios; ao ouvir a notícia, fiquei passada; em seguida, achei que isso pode dar um up no meu conceito, já que a namorada é realmente poderosa;
- para ser bem rampeira, dei um pé na bunda e, por assim dizer, tomei outro, mas tudo na santa paz.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Legal ma non troppo

Essas histórias de bater papo com desconhecidos acontecem comigo sempre. Pára-raio de loucos, diria a Matina.
Foram várias histórias, mas a mais radical foi a vez em que fui madrinha de casamento de um cara que conheci no ônibus. Não o ônibus escolar, mas o coletivo mesmo. Tinha uns 16 anos e voltava todo dia de ônibus, duas horas e meia de trajeto, do cursinho, no Centro, para casa, em Interlagos. São quase 30km. O ônibus ia pelo corredor e parava no Terminal Santo Amaro, nonde a rente bardeava protra condução, o Jardim Satélite.
O noivo fazia o mesmo caminho que eu e às vezes segurava meu material, porque eu tomava no terceiro ponto e o ônibus já tava lotado. Ele entrava no Centro, a namorada no Itaim. Não tinha celular, mas eles se coordenavam e tomavam o mesmo ônibus. Acho que tinha era pouca condução... A gente sempre conversava, até que os pombinhos resolveram se casar e me convidaram pra madrinha. Aceitei, né? Ia fazer o quê? Meu namorado na época, um santo, ainda foi comigo uma vez num almoço de domingo no Grajaú, logo depois do casório, quando fomos visitar a casa deles. Mas não consegui levar adiante a amizade, porque entrei na faculdade e um mundo novo se abriu. Ele ligava sempre pra casa, às vezes desabafava com a minha irmã, dizendo que eu era uma madrinha relapsa.
Eu era mesmo. Mas ele já me perdoou, dia desses que me achou no Orkut. Também já separou daquela mulher, já tem outra, tá tudo lindo. Demorou um pouco, mas aprendi que a gente não pode ser tãoooo legal com as pessoas, sabe? Porque elas vão querer que você seja legal sempre. E se um dia você não tiver vontade de ser legal, elas vão ficar de mal.
Li uma vez uma declaração do Ziraldo dizendo que a maior maldição para o ser humano era a frase do livro de miss, O Pequeno Príncipe, que diz que tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Na hora achei absurdo alguém questionar isso, mas hoje acho que o Ziraldo tem razão. Ser muito legal pode ser uma amolação duradoura.
Ano passado dei mole prum velhinho em Buenos Aires e o que era um papo furado no meio da rua virou um convite pra jantar, que eu não soube recusar, e uma cantada muito ordinária no final. Ainda não aprendi a dizer tudo o que penso na lata para quem não conheço bem. Sou expert em tocar o dedo na ferida dos amigos, mas sempre poupo os conhecidos. Tenho treinado, estou tentando.

Estreitando laços

Ainda não conheço a Mara, mas agora já conheço a Rose. Ela inclusive mandou um recado: disse pra eu avisar a Mara que ela é uma tratante, que não aparece pra visitar a comadre. O recado me foi passado esta semana, depois que a Rose tentou – em vão – ligar no meu celular várias vezes. Da primeira vez foi a cobrar, daí já me liguei que não era pra mim, era pra Mara. Não bastasse, eu ainda confundi o telefone da Rose com o da minha roomie e mandei uma mensagem de texto pra ela.
Aí a Rose me ligou de novo, achando que era pra Mara, e tivemos a oportunidade de dar boas gargalhadas – depois que eu contei que já conheço várias facetas da vida da madrinha do filho dela, graças às pessoas que ligam errado pro meu celular. Pra quem não leu o post anterior, ela tem o mesmo número que eu, com prefixo de Santos. Continuo sem saber se as pessoas ligam errado ou se é algum buraco negro do sinal da Claro. Mas o fato é que tenho uma nova amiga.

Reforma ortográfica

No meu livro de redação da quinta série do primeiro grau (hoje sexta séria do ensino fundamental), tinha uma crônica sobre acentuação. Posso estar totalmente equivocada dos detalhes, mas basicamente um professor de português entrava numa loja de armarinhos numa cidade de interior e comentava com o proprietário que faltava um acento no A do letreiro da loja, que dizia Aguia de Prata. O hómi (paroxítona terminada em "i") logo respondia que não, tava certo do jeito dele, porque não era Águia, mas Agúia. De qualquer forma, faltava um acento... Sem ele, a leitura seria "aguía", certo?
As crianças nunca mais vão entender o trocadilho depois que a reforma ortográfica for implantada em 2010, porque com ela caem de vez os acentos da base dos ditongos abertos, como queria o matuto. Logo, palavras como agúia e zóio não serão mais acentuadas.
Me disse uma revisora esta semana que ela já está revisando didáticos para 2010, tendo que aprender as novas regras sem deixar de lado as velhas. Muita gente, diz ela, está tirando o acento também de palavras como saúde, achando que é a mesma coisa. Mas não é: aí é "i" ou "u" tônico dos hiatos (foi assim que me ensinaram na escola) e essa regra continua existindo. Muita gente pode achar complicado, mas conhecendo as regras se vê que elas têm uma certa lógica. Podiam ser mais simples, claro, mas cumpriam sua função.
Eu que tinha um apreço todo especial pelo trema, estou lamentando sua partida... para sempre, como intuiu a Folha de S.Paulo. Reza a lenda que quando a Folha informatizou a redação, o sistema adquirido não tinha trema. Logo, o jornal, sempre na vanguarda, reformou a ortografia do português limando oficialmente o trema de seu manual de redação. Quando fui trabalhar lá na área de livros, reabilitamos o combalido trema, mas agora teremos de nos despedir mesmo.
As mudanças não são só essas, têm mais. Tenho pena de quem está saindo da escola nos próximos anos. Não vão ter tempo de aprender de novo e vão acabar escrevendo errado para sempre...

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Presente pra mim

Quando estive no Rio há algumas semanas, fui na Livraria da Travessa de Ipanema, um dos meus lugares preferidos da vida. Tinha saído da praia, comido comida japonesa, meus amigos foram pro Maraca, mas eu preferi voltar caminhando pra Copa.
Entrei na livraria, que estava cheia de uma forma decente, e logo vi essa capa. Um mosaico super colorido, com alguma coisa de rosa choque. Era um livro da jornalista e escritora espanhola Rosa Montero, com matérias que ela publicou no El País.
Fiquei passada. A capa, perfeita. O conteúdo, inédito. Resolvi levar, claro. Subi pra tomar um café segurando o livro, olhando, folheando, namorando. Consegui sentar na hora e tomar um café, coisa que é quase impossível nas melhores livrarias de São Paulo.
Na hora de pagar, o caixa me perguntou: "É pra presente?". "Sim", respondi. E trouxe o livro embrulhado para São Paulo. Ficou em cima da cômoda, esperando. Segunda-feira achei que merecia ganhar um presente. Abri o pacote com cuidado, tirei o livro de dentro. Namorei mais um pouco aquela capa linda, e comecei. Estou pensando inclusive em escrever uma dedicatória pra mim.

Boas risadas

Tenho uma nova flatmate que parece muito séria. Mas é muito bom quando a gente faz ela rir, porque ela tem uma gargalhada muito boa de se ouvir.