terça-feira, 22 de novembro de 2011

Não tem mais respeito

Estava revisando semana passada as legendas de um DVD sobre negociação em empresas e um dos palestrantes explica que muitas vezes a negociação dá com os burros n'água porque os dois negociadores perdem a cabeça e acabam partindo para a briga.
Segundo ele, isso acontece por causa do nosso famoso mecanismo de "fight ou flight", ou seja, brigar ou correr, algo que trouxemos de nossos queridos ancestrais da idade da pedra. Tem gente que descendeu do ramo que parte para o pau, e tem gente que veio do ramo que sai correndo. De qualquer forma, é uma reação instintiva e totalmente irracional.
Ele sugere que quando o sangue começar a subir, depois de se ouvir uma proposta indecente, o melhor é respirar fundo e pensar: "Por que essa pessoa à minha frente, um ser racional, coerente e razoável, está me fazendo essa proposta?" No fundo, ele propõe a empatia, se colocar no lugar do outro, tentar imaginar que pode haver razões que meu julgamento imediato não é capaz de entender. E então simplesmente perguntar o porquê das coisas.
Um conselho deveras útil, diante da falta de senso de loção que grassa por aí. Por mais que as pessoas sejam racionais, coerentes e razoáveis, certas abordagens disparam essa reação imbecil imediata e o resultado é uma baixaria total, independente de quem tem razão.
Um exemplo típico aconteceu hoje, embaixo da minha janela. Um rapaz passeava com o cachorro. O bicho fez o que tinha que fazer e o dono simplesmente ignorou e saiu andando. Uma senhora que vinha descendo deu uma bronca no rapaz. Começou a dar sermão, dizendo que o fulano era nojento, que não tinha educação e tudo o que qualquer pessoa de bom senso gostaria de falar para um sem-noção desse naipe.
O problema é que ela o abordou assim, dando bronca, intimidando, xingando. E o resultado foi que o fulano mostrou o pior lado dele: não só respondeu da maneira mais grosseira possível, como ainda soltou uma daquelas frases medonhas: "Sua velha, aposto como não tem marido em casa!" (É ridículo como toda mulher que reclama de alguma coisa é automaticamente tachada de mal comida. Fico besta!)
A reação foi péssima, mas o que aconteceu foi que a senhora supôs que ele era um sujeito idiota, quando na verdade é possível que ele sempre recolha o cocô, e justamente hoje tenha ficado sem nenhum saquinho em casa.
Posso estar sendo Poliana demais, mas isso já me aconteceu. Na verdade, aconteceu de a cachorra não fazer tudo que tinha que fazer na primeira vez e eu estar sem saquinho para recolher a segunda entrega. Fiquei morrendo de vergonha, procurei alguma coisa por perto, um jornal, mas não tinha nada. Nunca mais saí com um saquinho só, mas naquele dia eu poderia ter levado uma esbregue no meio da rua. Certamente eu não teria reagido dessa forma, porque sou da turma do "flight" e não do "fight", mas provavelmente teria me sentido injustiçada. Afinal, eu não sou assim.
Tudo para dizer que não basta estar certo, é preciso abordar o outro com respeito. Mas como diria o Tutubarão, hoje em dia as pessoas "não têm mais respeito"...