quarta-feira, 24 de junho de 2009

O sábio Chagall

Meu pai me ensinou que não adiantava muito a pessoa ser um gênio se fosse um completo misantropo. Geralmente, a história perdoa a misantropia e até a crueldade dos homens que deixaram seus feitos por aí. Claro que provavelmente muitos não seriam gênios se não tivessem esse lado sombrio, mas lá em casa a gente sempre acreditou que os gênios são mais gênios quando são seres humanos decentes.
Conversando ontem à noite sobre azuis - sim, a cor - lembramos dos azuis de Chagall e hoje cedo fui pegar meu Taschen do gênio russo, precisava ver aqueles azuis. E olha só o que encontrei:
"Como se sabe, um bom homem pode ser um artista.
Mas nunca ninguém poderá tornar-se um verdadeiro artista,
se não for um grande homem e, por conseguinte, também um homem bom."
Marc Chagall

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sempre tem uma primeira vez

Mesmo quando eu era pequena, nunca fui uma criança muito fantasiosa. Nunca tive amigos imaginários e já tinha uma pontinha de perfeccionismo que não me fazia aproveitar tanto as brincadeiras de faz-de-conta. Uma vez quis montar um circo de cavalinhos que nem o da Emília no meu quintal. Inventamos um monte de atrações, mas achei tudo tosco e não tive coragem de mostrar pra ninguém. Eu devia ter uns 11, 12 anos.
Talvez seja por isso que achei tão rampeira minha primeira ida a um sex shop. Claro que a gente deu boas risadas, mas alguém se excita com aquilo? O lugar já é péssimo. Um piso frio cinza escuro, paredes bege, um biombo de tapume reciclado com as "promoções" penduradas, luz fluorescente. Nas prateleiras, uns pintos tamanho garanhão puro-sangue, nas tonalidades standard e afro, vêm num saco plástico transparente grampeado no papelão com a marca: Rodrigues Produtos Eróticos ou coisa que o valha. Não consegui conferir porque a empresa não tem site. Nem no Geocities.
As embalagens são todas assim: ou um cara de bunda de fora fazendo biquinho e segurando um consolo alargador de ânus ou uma loira peituda americana de cabelo a la Farrah Fawcett mostrando as entranhas. A noção de feminino não passa de rosa-pink furta-cor e o produto mais lúdico que encontrei era um vibrador que parecia um Playmobil com um chapéu de guarda real britânica.
Lembrei de uma lojinha erótica cool que abriu na Vila Madalena há pouco tempo. Tinha lingeries incríveis, versos da Hilda Hilst adesivados nas paredes e brinquedinhos divertidos em embalagens diferentes. Por que será que não durou? Será que é cabeça demais? Ah, vai, um pouquinho de glamour não faz mal a ninguém, fala sério.
Se é pra bagaça ser tosca, acho que a ala de garrafadas e ervas para aumentar a potença que eu vi no mercado Ver-o-Peso de Belém é muito mais legal. Muito mais divertido e lúdico, os rótulos e nomes são muito mais criativos, as embalagens de garrafas de cores e tamanhos diferentes são muito mais estilosas.
Antes um cabra porreta do que o pinto do Rodrigues!

Happy Monday

Poucas coisas são melhores do que chegar em casa na segunda-feira. A casa tá limpa, graças à Santa Luzia, que não cuida dos meus olhos mas deixa minha casa perfeita. Ainda tem uma sopinha feita por mim na geladeira e a salada de frutas mais gourmet do planeta que sobrou de sábado. Sem contar que minha sala nova, elogiadíssima, ficou muito mais aconchegante... E hoje é dia de Private Practice e Grey's Anatomy. Such a perfect evening.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Shit happens

Se existe uma coisa libertadora essa coisa é saber que shit happens. Vai dar merda, mais cedo ou mais tarde. Não adianta achar que está tudo bem, então assim há de ficar.
Comigo, especialmente, se está tudo igual eu mesma dou um jeito de ferrar o esquema. O bom é que depois de tanta merda, os insights ficam mais frequentes. Aí você já saca que a merda tá vindo, e às vezes dá tempo de fazer alguma coisa.
Mas nem sempre. Lá estava eu, reclusa, vovozinha, cozinhando feito louca, inventando as sopas mais exóticas e achando tudo ótimo. Aí encontro um amigo, tomo uma cervejinha, bato um papo ótemo, chego bêbada em casa e entro num site de relacionamento.
Pronto.
Estou me divertindo horrores.
Até a próxima merda.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Pelo direito de ser mutante

Acho que a medicina deveria tratar todos os seres humanos como mutantes. Vá lá que ainda não apareceu ninguém azul com escamas, nem com pele de diamantes, sequer com garras nas juntas dos dedos. Apesar de que tem quem me convença a fazer coisas só com o olhar, como a mulher do Wolverine.
O que quero dizer é que os médicos deveriam tratar nossas semelhanças como um acaso e não como ciência. Se eles partissem do princípio de que ter dez dedos é mera coincidência e não o que nos define como seres humanos, quem tem doze dedos ou mesmo nove seria tão normal quanto todo mundo. E não haveria piadinhas imbecis sobre o presidente. Não que ele não mereça certas piadinhas imbecis, mas vamos combinar que fazer piadinha sobre a falta de um dedo do presidente é o que há de mais imbecil no mundo das piadinhas.
Cada vez que vou fazer aqueles exames femininos , todo o ano, mais me convenço de que somos todos únicos, e que aquele monte de médias, estatísticas e limites são convenções que mais atrapalham do que ajudam. Ninguém quer saber de nada da sua vida, vão enfiando coisas, vira pra cá, vira pra lá, de repente você se vê com a cara amassada em uma placa de acrílico, enquanto uma placa de metal gelada faz as vezes de rolo de compressor de desenho animado e transforma seus peitos em uma folha de papel.
Quem dera nossas diferenças fossem tomadas como especialidades que nos definem. Num mundo em que todo mundo precisa ser tão especial para ser alguma coisa, o fato de minhas células se organizarem da forma como são organizadas deveria ser suficiente para que eu fosse eu mesma, mais ninguém. E para que isso, em si, já fosse muito especial.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Eu poderia ter tempo

Se eu não fizesse matéria sobre mesinha.
Se eu não aceitasse assistir os curtas do festival.
Se eu não tivesse que cobrir a festa junina do cliente.
Se eu não participasse de duas reuniões de quatro horas cada uma para um trabalho que vai rolar se pans, mas que a verba é curta.
Se eu continuasse achando minha família um saco e fugindo de todos os compromissos.
Se eu não tivesse decidido transformar meu hobby numa nova fonte de renda.
Se eu não tivesse tantos amigos legais.
Se eu não fizesse tudo o que tenho vontade (que é tudo menos fazer matéria de mesinha).
Eis-me aqui, sobrecarregada de novo.
A diferença é que agora estou feliz.