quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Borboletices

Voltando de Belém me dei ao desfrute de comprar três revistas, das poucas que hoje me interessam. Uma delas é a Bons Fluidos, quem me viu quem me vê. Tava lá a coluna do Rubem Alves, ele falando de borboletas.
O texto me levou de volta ao Mangal das Garças, em Belém, onde tem um borboletário. Dá pra imaginar? Um lugar com vegetação própria, cercado de tela, para que você possa ver de perto várias espécies de borboletas da região, soltas, voejando daqui prali? Só vendo, que graça que é. Tem coisa mais delicada? E sai da lagarta, ninguém se esqueça, que a vida não é só moleza.
Meu nome é borboleta, Lysandra é uma espécie do sul da Europa Ocidental, ali pelo Mediterrâneo. Azul, azul.
Lysandra também foi mulher de Alexandre o Grande, diz a Wikipedia, sobre isso já prefiro não me posicionar. Me disse um professor de grego que o significado do nome é "a que liberta (lys) os homens (andro)". Disso até prefiro esquecer e continuar batendo minhas asinhas por aí.

O que eu vi no Marajó

Na hora em que a gente estava planejando a viagem, eu já sabia que ia adorar a ilha do Marajó. Veja que nome mais lindo. Marajó. Né?
Talvez alguém tivesse me falado de lá, mas não me lembro de nada específico. Tenho a impressão de que nasci sabendo. Sabia dos búfalos, da cerâmica marajoara. Mas não sabia de nada.
Começou com a pousada Casarão da Amazônia, que escolhi pela Internet e era exatamente o que estava imaginando. Novinha, tudo funcionando, piscina ótima, instalada numa casa antiga restaurada. E a melhor surpresa: Dona Rosa.
Dona Rosa trabalhava em casa de família e sempre adorou cozinhar. Contou pra gente que já fez mais de 20 cursos de culinária. Sempre que pode, corre pra Belém e inventa uma moda nova. Dona Rosa chegava na pousada pra preparar o café da manhã e lá ficava, na cozinha, até de noite, inventando biscoitos, treinando receitas.
Com os donos italianos da pousada, aprendeu a fazer macarrão em casa e logo no primeiro dia, depois de uma viagem de barco de três horas que nos deixou um caco, experimentamos a massa que parecia feita pela minha avó. À noite a pousada ainda tinha pizza feita em forno a lenha. Um luxo.
Noutro dia, fomos experimentar o restaurante da dona Dette. Um quintal cheio de árvores, todas elas plantadas pelo marido, seu Antonio. Depois da longa caminhada para chegar até lá, ele nos levou ao ateliê de um escultor local, enquanto a dona Dette preparava nossa carne de búfalo. Além de ter um colesterol baixíssimo, é mais macia que filé mignon. Por cima, uma grossa fatia de queijo do Marajó, branquinho como mussarela de búfala mas mais cremoso. Nham.
Seu Antonio viajou para o sul, conheceu São Paulo, quis abrir os horizontes, ele nos disse. Depois voltou, viu suas plantas crescerem no quintal e fincou raízes. Dona Dette, de Belém, não sai dali por nada. Passamos o almoço vendo revistas e prospectos, fotos dos três filhos do casal, que foram para a universidade em Belém e continuam ligados às tradições da terra.
Teve a Rosangela, figuraça, treinada no verbo turístico. "Isso aqui se faz com dente de jacaré, aquilo com dente de cobra. Quer ver a sucuri que eu tenho no congelador?" Claro que eu quis, adoro cobra. Veio um negócio cinzento e disforme numa gamela de barro. Comprei ali minha tartaruga cheia de histórias e promessas, chacoalhei, deixei na sala, tudo como a Rosangela mandou. O amuleto também tá guardado, "não pode perder nem quebrar". Que las hay, las hay...
E aquela loja de secos e molhados, hoje com quase nada de secos, piso de ladrilho hidráulico antigo? Uma mulher tranquilamente costurando patchwork e louca por um papo. Contou que aquelas xícaras de inspiração inglesa ela não vende, que a fábrica não faz mais. Vem um e pede, ela põe o preço lá em cima. Tem diferença, sabia? Não é qualquer cena azul que vem da Inglaterra. Umas são holandesas, tudo depende. Manja tudo, ela.
Daí teve o passeio na Fazenda São Jerônimo, da dona Jerônima - uma instituição paraense. Foi nessa fazenda que aconteceu aquele programa No Limite, mas isso não tem a menor importância. O que importa é toda aquela família - e seus desdobramentos mineiros e cariocas. Gentes de Soure espalhadas pelo sul, que nos mostraram o guará, o mangue, os caranguejos e até uma carcaça de boto, nossas esperanças à mercê dos urubus na praia. Conhecemos lá o jornalista Celso Fioravanti, um fanático pelo lugar, que passa suas férias na casa da dona Jerônima há 20 anos. Amigo da Neide Rigo, do blog Come-se, o que demonstra mais uma vez a pequenice do mundo.
Soure é isso, Soure está dentro da gente. Mas precisa ir lá pra descobrir.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Recuerdos de Belém

Se mais não houvesse para ver naquela terra, já seria possível escrever páginas sobre as pessoas que conhecemos em Belém do Pará. Não que as pessoas que perguntam "Belém? O que você foi fazer em Belém do Pará?" mereçam algum tipo de explicação, mas vamos começar do começo.
Ano passado fui para a Chapada dos Veadeiros, perto de Brasília, para fugir das praias lotadas e dos destinos tipicamente reveiônicos. Este ano a idéia era a mesma: conhecer algum lugar diferente do Brasil, com uma paisagem incrível, e fora do circuito. Eis que a Gol nos oferece uma passagem a preços acessíveis para Belém. Minha curiosidade já estava mais do que instigada pelas ótimas referências da Elis, da Karina e da Fernanda Sarmento, cada uma com suas experiências com as letras, a música e a arte - uma riqueza que por aqui poucos conhecem.
Lá fomos nós: 4 dias em Belém, 4 em Salinas e 4 na Ilha do Marajó. Paisagens, lugares, animais, vegetação são coisas que não se escreve. Fotos dão idéia mas é só na lembrança que tudo fica e dali não sai. Sem ver não se tem idéia do que é um guará vermelho com o verdume amazônico no fundo. Nem dos pratos, nem dos peixes, como é que se vive sem eles?
Mas de tudo o que mais me encantou foram as pessoas. Gentileza e dignidade. Amor à terra sem patriotada, atenção ao turista sem servilismo.
Pronto, gente, comecei.