Quando eu tinha 4 anos, minha melhor amiga era a Tia Rosa, mulher do zelador do prédio com vista para a favela de Heliópolis onde eu morava. Todo dia, quando eu chegava da escola, dava uma passadinha na casa dela. Lembro perfeitamente dos beliscões que ela fazia, aquele biscoitinho recheado de goiabada.
Lembro do dia em que descobrimos que eu estava com meningite. Cheguei da escola, subi para a casa dela e dormi. Ela achou estranho, porque eu estava sempre correndo pra lá e pra cá, e falando sem parar. Meu pai sabia que a epidemia estava rolando, porque trabalhava em jornal. Mas nem todo mundo sabia, porque a ditadura censurava. Fui na hora pro hospital e lá fiquei uma semana. Acho que a Tia Rosa me salvou.
Outra coisa que me lembro especialmente foi do dia em que ela começou a me falar sobre a igreja que freqüentava. Ela disse que um dia estava ali naquele terraço, coisa típica de apartamento de zelador, encarapitado lá em cima no prédio, e o céu se abriu.
– O céu se abriu e foi como se aparecesse uma janela e do outro lado tinha muitas, muitas flores.
Acho que depois ela falou de alguma voz, mas só o que ficou foi a imagem daquelas flores, num quadrado no meio do céu. Pra mim eram flores cor de anil, em várias tonalidades, grandes. Sempre quis que o céu se abrisse para mim...
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