sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Brasilidades

Ir ao cartório representa um sofrimento inenarrável para mim. Enfrentar aquela burocracia é algo excruciante. Penso que o Brasil está melhorando, e daí me lembro dos cartórios e quero chorar. Acho que só podemos pensar em algum avanço real (especialmente de mentalidade) no dia que essa instituição, aliada inseparável da burocracia, for extinta.
Às vésperas de viajar, precisei fazer uma procuração pública para deixar para o contador. Custa a módica quantia de R$ 142 e uns quebrados. Segundo consta, desde o escândalo com a quebra do sigilo bancário da filha do Serra, o governo resolveu complicar a vida de quem pede informações para a Receita Federal. Antes você mandava seu contador lá com uma procuração feita em casa e tudo bem.
Agora, tem de ir ao cartório, sentar na frente da escrevente e criar com ela um lindo texto cheio de salamalaques linguísticos para então seu contador ir na Receita e dizer: olha, vocês estão dizendo que a gente não pagou, mas pagou.
Pior é que isso também é necessário para quem sabe que não pagou e quer pagar. O dono da empresa manda o contador lá dizendo: devo, não nego, pago já. Não adianta. Jamais haveria um benemérito capaz de se oferecer para ir até a Receita, ficar na fila e saldar suas dívidas fingindo que é você. Mas o pessoal da Receita acredita em Papai Noel, então benemerência só com procuração pública.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Ouço a ficha caindo

Faltam dez dias. El 1er de febrero me voy a Buenos Aires, por um mês, fazer um curso de roteiro e explorar a cidade de cima abaixo. Só agora comecei a procurar os lugares que já fui e que quero rever. Fiquei emocionada. Amo Buenos Aires, amo a cultura argentina, a música, os quadrinhos, o humor agridoce parecido com o nosso e com o italiano.
Vi o site da livraria Clásica y Moderna, onde em 2009 assisti um espetáculo sobre Borges que me deixou sem fala. É livraria, mas tem restaurante e shows intimistas de música, poesia e literatura. Há museus novos abrindo, uma programação intensa de verão.
Já estou começando a arrumar as coisas, tirando o mofo da mala, separando as roupas. A única vez que viajei durante um mês foi em 1991, quando fui para a casa da Olga, uma colega chilena de faculdade, em Santiago. Naquela época, o Chile tinha saído da ditadura havia pouco mais de um ano. As pessoas não saíam à noite, ainda estavam se acostumando com a falta do toque de recolher.
Viajamos para o litoral e o sul, paisagens lindíssimas, lagos, vulcões, o Pacífico congelante mesmo no auge do verão. Pouca gente que eu conhecia tinha ido para o Chile a passeio. Hoje, é um dos países mais admiráveis do continente e um dos mais procurados para turismo.
Nossa imagem dos países da América Latina era muito diferente. No auge do nosso espírito esquerdista, na faculdade, procurávamos nossa raiz comum, uma cultura, uma ideologia. A maioria das pessoas, porém, ainda tinha preconceito e desdenhava dos vizinhos, generalizando todos os países em uma massa amorfa de nativos de Ciudad del Leste.
Para mim, essa imagem mudou totalmente. A América Latina ainda não é um primor de democracia, as notícias ainda fazem a gente rir, balançar a cabeça e dizer: "Só na América Latina pra acontecer uma coisa dessas", mas cada país adquiriu uma identidade própria. Na verdade, já tinham, é claro, mas só agora é que começamos a perceber.
O Peru está explorando com maestria sua diversidade gastronômica, com experimentações à base de ingredientes únicos (eles têm centenas de tipos de milho, cor de púrpura, preto, com grãos enormes, um mais diferente do que o outro, pimentas de todas as picâncias, batatas...) e uma influência cultural de diversos países, como China e Japão. Também estão explorando o turismo e a origem inca, em museus e sítios arqueológicos. Sem contar que eles têm litoral, cordilheira, selva, deserto e uma gama de hábitats maior do que o Brasil.
A Colômbia é outro lugar que aprendeu a extrair o que de melhor havia em sua cultura, conseguiu controlar a questão do tráfico e me parece fascinante em sua diversidade geográfica também.
São só alguns exemplos, e se quisermos encontrar defeitos também encontraremos aos montes, mas acho que o que mudou foi a maneira como esses próprios países começaram a se enxergar. Isso também vale para o Brasil. Parece que estamos conseguindo superar nosso complexo de vira-lata — isso sim uma característica comum a toda a nossa América Latina — e desenvolver um pouquinho de autoestima.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Cara nova, serviço novo

Mudei a cara do blog, uma coisa mais coloridinha, mas vivinha, apesar de eu continuar engasgando com uns golinhos de água.
Importante, porém, é o blog do novo serviço que estou prestando com Adriana de Oliveira e Silva, minha amiga: http://coachingliterario.wordpress.com

Vai lá!

Ai, que preguiça

É assim que a gente fica depois de trabalhar tanto, parecendo um verdadeiro Macunaíma, um estereótipo de baiano. E com isso não saem posts e o blog embolora como as paredes atrás da minha estante.
Enfim, os leitores devem ter debandado, mas como já tenho um blog é aqui mesmo que vou escrever minhas impressões sobre a viagem que farei semana que vem a Buenos Aires, com direito a um curso de roteiro.
Não vejo a hora!