sexta-feira, 4 de abril de 2008

Legal ma non troppo

Essas histórias de bater papo com desconhecidos acontecem comigo sempre. Pára-raio de loucos, diria a Matina.
Foram várias histórias, mas a mais radical foi a vez em que fui madrinha de casamento de um cara que conheci no ônibus. Não o ônibus escolar, mas o coletivo mesmo. Tinha uns 16 anos e voltava todo dia de ônibus, duas horas e meia de trajeto, do cursinho, no Centro, para casa, em Interlagos. São quase 30km. O ônibus ia pelo corredor e parava no Terminal Santo Amaro, nonde a rente bardeava protra condução, o Jardim Satélite.
O noivo fazia o mesmo caminho que eu e às vezes segurava meu material, porque eu tomava no terceiro ponto e o ônibus já tava lotado. Ele entrava no Centro, a namorada no Itaim. Não tinha celular, mas eles se coordenavam e tomavam o mesmo ônibus. Acho que tinha era pouca condução... A gente sempre conversava, até que os pombinhos resolveram se casar e me convidaram pra madrinha. Aceitei, né? Ia fazer o quê? Meu namorado na época, um santo, ainda foi comigo uma vez num almoço de domingo no Grajaú, logo depois do casório, quando fomos visitar a casa deles. Mas não consegui levar adiante a amizade, porque entrei na faculdade e um mundo novo se abriu. Ele ligava sempre pra casa, às vezes desabafava com a minha irmã, dizendo que eu era uma madrinha relapsa.
Eu era mesmo. Mas ele já me perdoou, dia desses que me achou no Orkut. Também já separou daquela mulher, já tem outra, tá tudo lindo. Demorou um pouco, mas aprendi que a gente não pode ser tãoooo legal com as pessoas, sabe? Porque elas vão querer que você seja legal sempre. E se um dia você não tiver vontade de ser legal, elas vão ficar de mal.
Li uma vez uma declaração do Ziraldo dizendo que a maior maldição para o ser humano era a frase do livro de miss, O Pequeno Príncipe, que diz que tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Na hora achei absurdo alguém questionar isso, mas hoje acho que o Ziraldo tem razão. Ser muito legal pode ser uma amolação duradoura.
Ano passado dei mole prum velhinho em Buenos Aires e o que era um papo furado no meio da rua virou um convite pra jantar, que eu não soube recusar, e uma cantada muito ordinária no final. Ainda não aprendi a dizer tudo o que penso na lata para quem não conheço bem. Sou expert em tocar o dedo na ferida dos amigos, mas sempre poupo os conhecidos. Tenho treinado, estou tentando.

Um comentário:

Thata disse...

ahahahahahaha
ahahahahahahaha
Amei!!
Vc não tem idéia de como eu estou me sentindo normal. Amei. Amei.