sábado, 19 de dezembro de 2009

Motivos para agradecer

Este ano sou só gratidão. Não sei se aconteceram mesmo tantas coisas boas, mas certamente foi com olhos de alegria e pertencimento que vi este ano. Motivos não faltaram:
- depois de oito anos, minha empresa finalmente deu mostras de que pode não ser uma ONG ou uma instituição sem fins lucrativos. Ainda não estamos praticando a mais-valia, mas a relação custo x benefício melhorou horrores;
- a cautela talvez dissesse para não tocar no assunto, mas como eu e ela não fomos feitas uma para outra, tive um namoro fulminante, enlouquecido, mas fui feliz como nem me lembrava mais que podia ser. Vieram lembranças que eu não lembrava, ficaram outras que vou lembrar. Pronto, falei;
- conheci pelo menos mais dez pessoas novas que não sei se vou ver de novo, mas que poderia ver todo dia ou nunca mais. Não é que tanto faz: é que as pessoas passam e ficam, e é assim mesmo;
- reencontrei outras tantas, me afastei de quem não estava na mesma conexão;
- aprofundei laços e o círculo de mulheres se expande e abraça o mundo e me abraça sempre que preciso;
- ganhei dinheiro fazendo sopa, pessoas se sentiram quentinhas no inverno e eu guardei meu primeiro dinheiro em muitos anos fazendo uma coisa que me dá muito prazer: cozinhar;
- meu quarto de hóspedes foi deliciosamente ocupado por amigos de outros estados e espero continue sendo;
- reformei a sala, meu quintal agora é laranja, tenho uma nova cortina cor de rosa e isso significa que minha casa tem novas luzes insuspeitadas...
E a lista vai embora. Então, eu agradeço!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Desapego

Cada decepção, uma faxina.
Sapatos para o conserto, roupas doadas.
Lustre daqui para lá, mais luz no escritório, penumbra na sala.
O mofo do muro, expulso: demãos de laranja imperial.
Vaso para a trepadeira, rede sob um caramanchão de alamandas roxas.
Rosinhas vermelhas não cabem em si.
Volta a cortina abóbora, que vai com o edredon novo de flores turquesas e amarelas.
Encho a casa de cores, deserdo meus tons de cinza.
Falta parar de chover.
Falta o céu azul.
Falta.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Que dia...

Desde que o mundo é mundo, as pessoas tentam fazer conexões entre as coisas para tornar a vida mais previsível e evitar o sofrimento. Então se de manhã você acorda morrendo de vontade de chorar, e chora mesmo pra valer, talvez devesse pensar: hoje vai ser foda. Aí você prepara o espírito, ou inventa alguma história para não ir trabalhar. Mas como não é difícil eu acordar chorando, eu que sou de Oxum (ou quero ser), muitos dias seriam foda se essa fosse a conexão.
Deve estar havendo outra conjunção astral hoje. Amigos se desentenderam (e eu no meio), pessoas que resolveriam coisas simplesmente não deram o ar de suas graças, notícias de outras brigas e desentendimentos, doença, erros. Credo! Credo! Credo!
Vou tomar um sorvete e me enfiar debaixo da cama até passar essa zica.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Assim, assado, alhures

Se tem coisa que eu admiro é essa constância das pessoas. Leio blogs em que as pessoas sempre falam do mesmo assunto. E viram especialistas. Escrevem sobre seu tema e postam coisas complementares, mas sempre sobre o mesmo tema.
Puxa, seria incrível.
Mas assim não sei.
Devem ser os múltiplos olhos de Argus da minha borboleta, que não param de olhar para todos os lados.
Já contei que tem uma borboleta chamada Lysandra bellargus, né? Ela é azul-lindíssima por dentro, e por fora tem dezenas de olhinhos escuros. Bellargus se refere a Argus, o monstro de mil olhos da mitologia grega. Que, assim como eu, tudo vê, nada sabe.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Pessoas

Se eu fosse imaginária
Queria ser um heterônimo
De Fernando Pessoa

Seria aquela
que fala de gente
Que vê nas pessoas
o encanto
que Caeiro descobre
nas flores
e nas réstias de sol

Diria
que não acredito
em Deus
porque nunca o vi
Mas que acredito
nas pessoas
que acreditam em Deus
porque as vejo

Eu veria em cada uma
essa essência
que Deus quis que Caeiro
visse nos montes e lagos

E muito provavelmente
– eventualmente –
flertaria com a morte e a tristeza
como Álvaro de Campos

Afinal, a tristeza existe
no coração das pessoas
que vivem intensamente
como as pessoas
de Pessoa