sábado, 26 de janeiro de 2008

Mondegreens = virunduns

Eu adoro, adoro isso. Pra quem não sabe, mondegreens ou virunduns (versão brasileira), são letras de músicas que as pessoas entendem errado. Saca "trocando de biquini sem parar", aquele clássico da banda do finado filho do ministro da Cultura? Então, é isso.
O termo mondegreen saiu de uma música escocesa do século 17 que diz:
Ye Highlands and ye Lowlands,
Oh, where hae ye been?
They hae slain the Earl O'Murray,
and laid him into the green

A última frase, mal compreendida pela escritora americana Sylvia Wright, virou And Lady Mondegreen, o que acabou dando nome a isso. No Brasil, virundum vem de Ouvirunduipiranga, lógico. Nossos hinos parnasianos são pródigos em virunduns, tipo "japonês tem cinco filhos".
O melhor site de mondegreens é o www.kissthisguy.com, que existe desde os primórdios da internet e está cada vez melhor. Já são dezenas de milhares de bobagens de rolar de rir. O nome do site mesmo é uma homenagem a "Kiss the Sky", do Hendrix.
Uma das músicas que gerou alguns dos melhores mondegreens de todos os tempos foi Beast of Burden, dos Stones. Enquanto o Mick Jagger canta I'll never be your beast of burden (eu nunca serei seu burro de carga), pessoas entenderam:
- I'll never be your big stuffed bird (seu grande pássaro empalhado)
- I'll never be your Easter Bunny (seu coelhinho da Páscoa)
- I'll never be obese Roberta (obesa Roberta - fala sério se este não é um dos melhores de todos os tempos!)
- I'll never leave your pizza burnin' (nunca vou deixar sua pizza queimar)
e por aí vai. Só esta música tem mais de dez mondegreens.
O site é incrível. Além da pessoa confessar o erro na letra da música, ela ainda conta quantos anos tinha no grande momento da revelação, como foi a situação e se ela tentou convencer alguém de que sua versão era a certa.
Na minha classe da faculdade, um amigo teve problemas com a música de abertura do Clube do Mickey. Enquanto a Britney, a Aguilera ou algum daqueles cretinos cantavam, dublados, "Mickey Mouse vai partir", ele entendia, meigamente, "Mickey Mouse, batatinha". É um fofo até hoje esse rapaz, adoro ele.
Achei um blog do Alexandre Inagaki, sujeito que tem váaarios blogs, chamado Virunduns. Ele fala de alguns, posta uns vídeos musicais inacreditáveis (tipo uma versão norueguesa de "Total Eclipse of the Heart", da Bonnie Tyler, com uns noruegueses cabeludos que acompanham a música batendo a porta dum freezer ou batucando num fogão velho - hilário, imperdível!). Não é a mesma coisa, mas é divertido.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Fui

Há um bom tempo quebrei meu próprio recorde de período contínuo de tristeza, que antes nunca tinha passado de quinze minutos. Quero dizer um período durante o qual a tristeza prevaleceu, apesar de, claro, haver momentos divertidos, alegrias pontuais e boas gargalhadas. Na verdade, o pico da tristeza foi a separação, em novembro de 2004. A tristeza feia tinha começado mais ou menos um ano antes, junto da crise. Mas acabou.
Parece muito tempo, mas até que não é para quem passou doze anos com uma pessoa, num relacionamento complicado mas divertido, cheio de cumplicidades, muitas risadas, que nunca foi de verdade uma rotina, até porque a gente nunca foi muito normal.
E agora eu não estou mais triste. E vou membora. La la la la la

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Livros sobre livros

Li "Reparação", do Ian McEwan, no final do ano e domingo passado fui ver a adaptação para o cinema. Como era de se esperar, o filme se baseia no enredo do livro e não tem a mesma profundidade psicológica. A história é muito boa e rendeu um filme lindo, o casting foi bem escolhido. Tem um pouco de música demais pro meu gosto, uns silêncios ali aprofundariam o clima. Mas tudo bem, vale a pena assistir.
O que ficou faltando foi justamente a dimensão metalingüística do livro, cujo tema principal, na verdade, é a escrita. A personagem Briony desde pequena quer ser escritora. E toda a confusão acontece por causa dessa sua aptidão. Assim como a reparação, revelada no final surpreendente.
Livros sobre livros são uma categoria a parte, que pouca gente conhece, ou classifica dessa forma, mas que rendem volumes incríveis. Tenho um livrinho que adoro (Ex-Libris, de Anne Fadiman), de crônicas sobre livros e o prazer da leitura. Nele a autora conta que a grande decisão que ela e o marido tiveram de tomar no casamento foi a de reunir suas bibliotecas. E discorre sobre as viagens que fez com o marido para que pudessem ler certos livros no local onde as histórias acontecem.
Já estou formando uma pequena coleção de livros sobre livros. Gênero candidato a tornar-se predileto.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Cheia da moral

Pois acho que meu desejo de final de ano está fazendo efeito. Estou começando pelo baixo clero, mas já é alguma coisa. Esta semana fui pra academia e na hora em que estava saindo do carro, cheia de mochila, de roupitcha de ginástica, reparei que no carro do lado tinha um sujeito. Ele me deu oi, mas eu não respondi.
Quando saí, tinha um cartão cheio dos lero-lero no meu vidro, dizendo pra eu ligar que ele tinha me achado maravilhosa. Concluí que era o mesmo camarada, acho que era meio velho, mas não vi nada pelo vidro.
Agora tô aqui no escritório em fechamento e me entra o faz-tudo do prédio, um cara que fez uma reforma lá em casa, me trazendo um presente. Um leque cheio de bordados, preto, que ele comprou no Centro porque lembrou de mim. Devo dizer que morri de vergonha, mas oras... tá tão calor...

Sim, fui abduzida

Diante da minha disposição para as trilhas, cachoeiras e caminhadas na viagem para a Chapada dos Veadeiros, minhas amigas já tinham chegado à conclusão de que eu teria sido abduzida e que o ser que habitava meu corpo não era o mesmo que elas conheciam.
Além de fazer questão de cultivar a fama de não gostar de exercício, nem de mato, ano passado minha reputação ficou definitivamente arrasada quando decidimos subir a Pedra Grande, da Serra da Cantareira, num domingo.
No meio da subida de mais de três quilômetros, com a perna doendo e totalmente sem fôlego, comecei a me perguntar o que estaria eu fazendo ali, procurando macacos no topo das árvores, enquanto lá embaixo, na Paulista, rolava a Parada, onde uma fauna muito mais divertida caminhava no plano, dando risada e ouvindo música.
Hoje comecei a me perguntar se realmente ainda era o mesmo ser que habitava esse corpo, na aula de hidroginástica. A professora, que reputa o refrão "viver, e não te a vergonha de ser feliz" como o mote de sua vida, ama Gonzaguinha e decidiu nos brindar com o bardo na hora do relaxamento.
O estranho é que isso não está me irritando. Hoje até acompanhei uma das músicas, que diz "ao som desse bolero, vida, vamos nós, e não estamos sós...". Meu pai vivia cantarolando esses versos, sem saber como a música continuava, e voltando sempre para o mesmo ponto. Ele ensinou a gente a gostar de músicas boas, depois desencanou e hoje gosta de coisas como Gaúcho da Fronteira.
Então talvez eu não tenha sido abduzida, talvez simplesmente seja filha do meu pai.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Frases Alabarda I

Quem não se lembra daquelas balinhas verdes que vinham com um adesivo com frases edificantes e pensamentos? Inauguro aqui minhas frases edificantes, apesar de já ter colocado algumas, que também podem ser confundidas com filosofia de botequim ou pára-choque de caminhão.
O tema hoje é preconceito, em homenagem a uma figura que proferiu uma frase preconceituosa contra negros daquelas que dá cadeia e que a gente nem costuma ouvir mais, de tão politicamente incorreta. Mas só pra pensar no preconceito nosso de cada dia, aí vão algumas Frases Alabarda:
- Ser cool é estar alinhado com o preconceito do momento.
- Amigos se reúnem em torno de gostos e preconceitos comuns.
- O crente é o novo preto.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O poder ultrajovem no poder

Pense em tudo o que você não teria aprendido ao longo da vida se seus pais tivessem deixado você decidir tudo o que queria desde a infância. Quantas músicas não teria ouvido, quantas comidas não teria experimentado, quantas pessoas não teria conhecido. Outro dia um primo, que tem duas filhas de 12 e 10 anos e um menino de 8, estava dizendo que eles têm um acordo. As crianças só podem ouvir High School Musical no carro da mãe. No carro dele, é ele quem manda na programação musical. "Porque se a gente deixar", ele disse, "elas nunca vão ouvir nada além disso."
Minha irmã e eu passamos a vida inteira reclamando de ter de ouvir Jovem Pan AM de manhã quando estávamos indo para a escola. Só de ouvir o "Vambora, vambora, olha a hora..." a gente tinha arrepios. Mas ninguém morreu por causa disso e com certeza éramos mais bem informadas do que algumas colegas.
Hoje os pais têm filhos e ficam completamente fora do mundo. Ninguém mais vê filme de adulto, nem lê livro de adulto, nem assiste programa de TV de adulto. Talvez seja uma estratégia escapista, mas é fato que as crianças hoje têm um poder muito maior do que a gente teve. O resultado não é legal. Graças às vontades e gostos dos meus pais e avós, hoje conheço muito de música, não tenho frescura pra comer e suporto bem situações que a maioria das pessoas acha mala. Melhor pra mim.
Tem uma crônica do Drummond, publicada num daqueles volumes chamados "Para gostar de ler", coletâneas que a Ática publicava na década de 80, que justamente chama "O poder ultrajovem". Era sobre um pai que leva a filha pequena pra jantar fora e os dois ficam discutindo o que vão comer, porque o pai quer pedir uma lasanha pros dois e a menina quer comer camarão. Claro que a menininha dá um nó no pai, mas naquela época isso tinha graça porque era incomum. Era só o começo da ditadura da infância que hoje assumiu o poder.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O poder do pileque positivo

Quando o positive thinking não é mais suficiente, é preciso valer-se do poder do positive drinking. Acordei hoje com essa musiquinha muito divertida do Lou Reed na cabeça, com um solinho inicial de guitarra que parece coisa daquela banda chamada A Cor do Som.
Eu sou do vinho, e estou longe de caminhar pelo wild side como o Lou, mas entendo o poder do scotch e acho que compartilho com ele a cara de gente em quem se pode confiar.

The power of positive drinking

Some like wine and some like hops
But what I really love is my scotch
It's the power, the power of positive drinking

Some people ruin their drinks with ice
And then they, they ask you for advice
They tell you, I’ve never told anyone else before

They say, candy is dandy but liquor makes quipsters
And I don’t like mixers, or sippers or sob sisters
You know, you have to be real careful where you sit down
In a bar these days

And then some people drink to unleash their libidos
And other people drink to prop up their egos
It's my burdon, man, people say
I have the kind of face you can trust

The pow-pow-pow-pow-power of positive drinking
The pow-pow-pow-pow-power of positive
The pow-pow-pow-pow-power of positive
The pow-pow-pow-pow-power of positive
The pow-pow-pow-pow-power of positive drinking

Some people say, alcohol makes you less lucid
And think that’s true if you’re kind of stupid
I’m not that kind that gets himself burned twice

And some say liquor kills the cells in your head
And for that matter so does getting out of bed
When I exit, I’ll go out gracefully, shot in my hand

The pow-pow-pow-pow-power of positive drinking
The pow-pow-pow-pow-power of positive
The pow-pow-pow-pow-power of positive
The pow-pow-pow-pow-power of positive
The pow-pow-pow-pow-power of positive drinking

Back on the chain

De volta à vida real, da qual na verdade já estava meio com saudades, porque uma semana no meio do mato já é suficiente pra me botar com vontade de cheirar escapamento, barulho de ônibus e outras bizarrices de uma paulistana assumida e declarada como eu.
A viagem foi ótima, cachoeiras maravilhosas, muita água gelada - que faz um bem louco pro cabelo e pra pele, além de carregar pra longe frescuras e idéias fixas. Voltei da cor que deveria ter sempre, não aquele amarelo-vestibular que me persegue quando fico muito tempo sem ver a cara do sol. Mas acho que vou abrir um blog específico da viagem com as meninas, pra poder botar as fotos coletivas.
Não, não fui abduzida, não foi dessa vez. Mas troquei cartões com o além e os contatos imediatos parecem promissores.