domingo, 28 de outubro de 2007

Musas e divas

Cibelle tem 24 anos, é paulistana, mora em Londres e faz um som incrível. Grande surpresa no Tim Festival frustrado, já que a Feist que eu queria tanto ver não veio. Mais do que a música, uma grata surpresa. Cibelle é engraçada, autêntica. Tenho a impressão de que há um tanto de auto-reconhecimento no tanto que gostei dela. Lembranças de que se pode ser livre e não se preocupar com o que os outros vão pensar, de que não é preciso ser igual a todos os outros para ser alguém. Obrigada, Cibelle, por me lembrar disso tudo.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Mãe é mãe

Depois que eu resolvi que mãe é mãe, está ficando cada vez mais divertido conversar com a minha, e com o meu pai também. Ontem demos boas risadas depois de eu confessar que gastei o dinheiro que eles me deram de aniversário num mapa astral. Em outros tempos eu negaria até a morte. Em outros tempos eu jamais faria um mapa astral.
Aí fui tentar explicar que tinha sido ótimo, que a astróloga é psicóloga e que nos demos superbem, que estou vivendo um momento legal bla bla bla. Daí conversa vai, conversa vem, e eu falei que estava me sentindo cada vez melhor e que quando eu estivesse preparada ia aparecer alguém legal, e todo aquele papo. Porque o assunto sempre acaba em homem, ou na falta de um.
É quando minha mãe se sai mais uma vez com uma daquelas: - Mas você precisa cuidar de sua aparência. Você usa alguma coisa no cabelo que não fica bom, parece sujo e opaco.
Meu cabelo é preto como a asa da graúna e enrolado. Nem sempre é um cacheado bonito, mas graças a esses leave-ins que minha mãe acha que ensebam o meu cabelo hoje eu gosto dele muito mais dele. Eu não vou dizer jamais porque estou mudando tanto que posso pagar a língua, mas tenho zero vontade de fazer chapinha japonesa. Estou muito bem obrigada com o meu cabelo. Mas minha mãe, que tem cabelo liso, não entende que cabelo crespo não se escova.
Foi engraçado, mas um pouco melancólico. Foi um deja-vu. E como eu não consigo não pensar no assunto e deixar pra lá, hoje não passei o leave-in. E o bicho tá rebelde feito a juba da Gal Costa.
Pra resumir a história, vou ter de fazer uma daquelas minhas sínteses jornalísticas cruéis, que minha família e alguns amigos odeiam: Minha mãe acha que eu não arrumo namorado porque não uso terninho e não penteio o cabelo.
E eu ainda me importo com a opinião dela...

Melhor de três

Três coisas que eu detesto (não são tantas ao todo) e três das muitas que eu adoro:
Eu detesto:
- A Vila Olímpia
- A combinação de publicitários e Carnaval na Bahia
- Cartórios em geral

Eu adoro:
- Meu carro novo
- O som do meu carro novo
- O André, que me deu o som do meu carro novo

(Ontem levei quase duas horas pra ir de Pinheiros à Vila Olímpia, todos os estacionamentos estavam lotados e custavam 10 pilas a hora, mas o que me salvou da loucura foi o fato de estar ouvindo música. Salve Chico Science!)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Diálogos Improváveis I - O medo americano

- Eu bem que gostaria de ter um trauma, sabe? Pra mim, trauma é meio de vida. "Ah, eu não dirijo porque tenho um trauma". Medo também. "Ah, não viajo de avião porque tenho medo", "Não atravesso o viaduto porque tenho medo".
- Ah, mas você deve ter algum trauma. Você não é normal...
- Não é disso que estou falando, seu bobo. É dessas coisas que limitam a vida da pessoa. Eu não tenho nada disso, até acho muito conveniente, mas não tenho.
- Sei, essas coisas incapacitantes...
- É. Você, por exemplo. Tem medo de mariposa. Até grita de medo, sai correndo do quarto. É disso que eu tô falando.
- Bom, é, mas veja bem... O problema é que isso desencadeia uma crise.
- Como assim? É incrível, você tem medo de mariposa mas não tem medo de barata.
- É que barata eu posso matar. Porque eu tenho um medo americano de mariposa, mas não posso matar, porque as pessoas dizem: "ah, coitadinha, é um bicho que não faz mal a ninguém..."
- Medo americano? Como assim?
- Medo americano, essa vontade louca de matar. Americano não mata tudo que dá medo neles? É assim.
- Hahahahaha. Entendi. Você tem um medo americano de mariposa, mas tem culpa de matar.
- É.
Pois é, esse é o meu primo André.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Da doçura da alcachofra

Primeiro você vai tirando cada uma das folhinhas, molhando no azeite com sal. Uma por uma, até chegar aos espinhos. Depois você pega um chumacinho de cada vez, molha no azeite com sal, e chupa pra não perder nada. Vem então a grande recompensa. Se a alcachofra ficou inteira, sobra o fundo côncavo, maciço, que faz ventosa no prato. Aí você come aquilo em mordidinhas bem pequenininhas, pra degustar cada pedacinho. E depois de acabar, vem a parte mais surpreendente. É só tomar um gole de água para detonar uma outra gama de sabores, doces, um contraponto incrível ao sal e ao leve amargor da estranha flor.

domingo, 7 de outubro de 2007

A vida, por Itamar Assumpção

Viver é risco preciso
Verbo transitivo estranho

A vila II

O texto anterior já estava escrito há algum tempo, quando eu ainda editava a revista Urbs e comecei a me interessar mais por urbanismo. Me lembrei dele depois da experiência incrível que tive ontem, num elo perdido existente em São Paulo chamado Vila Maria Zélia.
É uma antiga vila operária, construída por uma indústria têxtil que não existe mais, no bairro do Belenzinho. São 4 ruas por 5, com casas que já foram muito mais simples mas que foram sendo reformadas. A cara é de bairro, e não de condomínio. Ninguém é obrigado a pintar a casa de bege. Apesar da portaria, todo mundo pode entrar. Tem uma igreja com missas regulares e um antigo armazém se transformou em residência para o Grupo XIX de teatro. Tem uma praça arborizada, uma cancha de bocha num salão comunitário, um campinho de futebol.
Apesar de ser um verdadeiro enclave, o espírito é totalmente diferente de um condomínio. A maioria dos moradores descende dos operários originais e cada casa que é posta a venda é logo oferecida a um parente. Claro que o isolamento confere segurança às crianças que brincam na rua até tarde da noite, mas o lugar é tão agradável que com certeza segurança não deve ser o fator que as mantém ali.

A vila I

“Considere agora os projetos de reurbanização das cidades: residências de renda média e alta que ocupam grande extensão do solo urbano, vários quarteirões antigos, com terrenos e ruas próprias para atender a essas ‘ilhas urbanas’, ‘cidades dentro da cidade’ e esse ‘novo conceito de vida urbana’, como dizem os anúncios sobre eles. Aqui, a prática é também demarcar o Território e deixar de fora das cercas as outras gangues. Antes, as cercas nem eram visíveis. Os guardas eram suficientes para garantir a fronteira. Nos últimos anos, contudo, as cercas tornaram-se concretas.”
O trecho acima foi retirado do livro “Morte e Vida de Grandes Cidades”, da jornalista e estudiosa do urbanismo Jane Jacobs, e foi escrito em 1961. Começavam os grandes projetos de reurbanização dos subúrbios norte-americanos, que só chegaram no Brasil tempos depois e são cada vez mais populares. Cada vez mais pessoas optam pelo isolamento e pelo território demarcado, para escapar da “violência”, do “medo”, em busca de “segurança”. Em tudo isso me lembra o filme “A vila”, de M. Night Shyamalan, que parece que passou batido da maioria das pessoas, mas que achei genial, porque ataca justamente esse ponto. Em vez de combater o medo do outro pela compreensão, a segurança é buscada no isolamento. E daí vem outra frase do mesmo livro: “E quem pode garantir que todos os milhares que por direito estão dentro do forte sejam confiáveis no escuro?”
É exatamente essa a história do filme. Um grupo de pessoas vive em uma aldeia cercada de um bosque que funciona como limite do território. Ninguém pode passar dali, sob pena de serem invadidos pelos seres do outro lado, vizinhos temíveis que ninguém sabe dizer se são humanos ou monstros. A comunidade vive muito bem, de forma auto-sustentável, sob dogmas e preceitos que passam de geração em geração. Mas a ordem só pode ser mantida pelo medo. E é claro que isso não dura muito tempo, porque – mais uma vez cito a Jane Jacobs – “O planejamento urbano ortodoxo está muito imbuído de concepções puritanas e utópicas acerca de como as pessoas devem gastar seu tempo livre, e, na área do planejamento, esse moralismo sobre a vida pessoal confunde-se com os conceitos referentes ao funcionamento das cidades”.
Essa visão autoritária sobre como deve ser a vida das pessoas, que muitas vezes vem aliada a utopias, já fizeram a minha cabeça. Eu sinceramente acreditava que as pessoas poderiam chegar a um acordo e agir todas da mesma forma, vivendo numa comunidade em paz e tranquilidade. Um pouco daquela visão das comunidades da década de 70, que pregavam o amor livre. Ninguém é de ninguém, todos compartilhamos o pão. Daí eu me lembro daquele outro filme que adoro, o sueco “Bem-vindos”, de Lukas Moodysson, que mostra uma comunidade hippie na década de 70. Tudo vai muito bem até que a mulher do próximo resolve dar pra todo mundo menos pro companheiro, que apesar de ser o cara mais cordato do universo também acaba se irritando.
Essas utopias são fundamentais numa fase da vida, mas na hora do vamos ver não funcionam. Hoje em dia acho que menos ainda, porque as pessoas estão ainda menos dispostas a deixar seu ego de lado em prol do bem comum. A terapia nos ensinou que temos de fazer valer nossos direitos e brigar por nossas vontades, e assim essas utopias realmente não passam mais pela cabeça de ninguém. E com o passar do tempo as pessoas passam a tentar se proteger do “outro”, unindo-se aos seus iguais em condomínios de luxo, de muros altos, portarias e crachás.
De uma forma ou de outra, nem todos serão cordatos por muito tempo. Nem todos estarão imbuídos do espírito que os reuniu ali. Os jovens usam drogas, independente da altura do muro, e isso nem sempre é um problema – mas às vezes é. Para compensar o confinamento, os pais se tornam mais permissivos e há sempre histórias de garotos de moto que atropelam crianças nas ruas tranqüilas dos condomínios.
Surgem novas proibições e em seguida novas formas de burlá-las. A superproteção gera pessoas mais inseguras. Da tentativa de evitar o sofrimento, surgem pessoas despreparadas para os problemas mais insignificantes. Tudo isso para dizer que a vida e a liberdade dão um jeito de se manifestar, se as regras feitas para manter a ordem são autoritárias e moralistas.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Olhando de través

Notícias antigas me chegam depois de meses. O passado ronda, como uma dessas pombas-rato da metrópole, que aparentemente são espertas mas, de vez em quando, dão mole e são atropeladas no asfalto. Cante comigo, na versão do Jakob Dylan, por favor.

I'm looking through you
(Beatles)

I'm looking through you, where did you go
I thought I knew you, what did I know
You don't look different, but you have changed
I'm looking through you, you're not the same

Your lips are moving, I cannot hear
Your voice is soothing, but the words aren't clear
You don't sound different, I've learned the game.
I'm looking through you, you're not the same

Why, tell me why, did you not treat me right?
Love has a nasty habit of disappearing overnight

You're thinking of me, the same old way
You were above me, but not today
The only difference is you're down there
I'm looking through you, and you're nowhere

Why, tell me why, did you not treat me right?
Love has a nasty habit of disappearing overnight

I'm looking through you, where did you go
I thought I knew you, what did I know
You don't look different, but you have changed
I'm looking through you, you're not the same

Autodefinição de aniversário

Cada vez mais Nouvelle Vague: punk por dentro, metida a bossa nova por fora.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Questão vernácula

Não confunda auto-estima com falta de autocrítica.