terça-feira, 29 de julho de 2008

A lei da atração

Vinha vindo a pé pela Paulista, pensando na velha que eu quero ser daqui a 30 anos. Não sei se vou deixar o cabelo grandão e pintar com henna, pra parecer aquelas professoras da USP, ou se deixo ele ficar todo branco. Acho lindo.
Parei pra tomar um café do lado do Banco Real. Na minha frente na fila, uma mulher de uns 50 anos, cabelos rosa-choque, jaqueta jeans pintada a mão com flores. Logo começamos a conversar, ela me contou assim, sem mais, que a velha que ela quer ser é uma senhora que descobriu, depois dos 60 anos, que gosta de tingir lãs das cores mais berrantes. Arrumou uma forma de sobrevivência e um novo talento. E ela compra as lãs para tricotar cachecóis.
Minha nova amiga é ilustradora, pegou meu telefone. Estou voltando a ser pára-raio de loucos do bem. Acho que é um bom sinal.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Só pra lembrar

Eu ainda quero ser abduzida. Gosto de ficção científica mas não é nenhuma curiosidade científica pelos outros planetas. É a mesma vontade de sumir sem precisar me mobilizar pra isso. Se acontecer, amigos, podem ficar tranqüilos. Não precisam nem devolver meus tupperwares.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Todo dia ele faz tudo sempre igual


É, meu cabelo. Todo dia saio de casa achando que domei a fera, mas não tem jeito. Quando chego no elevador do escritório e me vejo no espelho, tá lá. Igualzinho meu avatar dos Simpsons.

Terça-feira, dia de tomar ônibus

Terça-feira é rodízio, dia que eu faço de tudo pra deixar o carro em casa e ir trabalhar de condução. Sempre levo um livro, claro, mas agora não consigo mais ler em qualquer lugar. Antes viajava de carro pra qualquer cidade de serra lendo o caminho inteiro, enquanto minha mãe e minha irmã passavam mal sem ler, e agora desenvolvi essa limitação. Não consigo mais ler quando sento no banco do metrô de costas. O remédio é olhar as pessoas, né?

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Por que as pessoas usam peruca? E por que o tom sempre puxa para o acaju? Por que, meu deus, por quê??! Em uma edição do Queer Eye for the Straight Guy ensinou-se um moço a raspar careca, depois de ele ter torrado a peruca na churrasqueira, em uma despedida ritual. Muito instrutivo esse programa.

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Mãe e filha. A mãe se senta ao meu lado, a filha pula para o banco reservado. A mãe na hora puxa a menina para seu colo. "Não pode sentar aí. Esse banco é só praquelas pessoas que estão ali no desenho." A menina tem uns cinco anos. Dá uma resmungada, mas olha para os desenhos. "Tá vendo? O que que tem ali?" A menina enrola, e começa: "Um doente, uma grávida, uma mãe com bebê, um velhinho." Então, diz a mãe, você é alguma dessas pessoas? "Não..." "Então não pode sentar aí." Civilidade existe.

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Já reparou que em todos os vagões existe pelo menos uma pessoa lendo um livro da Zíbia? Na próxima encarnação também quero falar com pessoas mortas, que isso dá uma grana.

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O tecido top-one do metrô se chama "oxfórrrde". É assim que as vendedoras das lojas de roupas para moças que trabalham em escritórios pronunciam, com força no R e E no final. Sabe aquele tecido sintético típico das calças e paletozinhos de moças que trabalham em escritórios? Quente no calor, frio no inverno e meio brilhozinho? É esse. Marca celulite que é uma beleza. Inda mais em calça verde água.

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Na volta tem mais.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Por falar em natureza selvagem

A história do peixe, na verdade, tem a ver com o filme "Na natureza selvagem", do Sean Penn, que assisti ontem. A história não é nova: um cara (que hoje teria praticamente a minha idade) acha que a sociedade é cruel, que o dinheiro corrompe, que os pais são hipócritas, e decide sair por aí, vivendo como dá, e voltando à natureza. Medo desses filmes. Costumam ficar em um dos extremos. Ou louvam a volta aos primórdios, corroborando a tese do fugitivo, ou dão uma lição de moral de deixar qualquer um frustrado.
Esse não. Até por ser uma história real. Pra começar, o personagem não é estereotipado. Não é um playboyzinho frustrado nem um hipongo podicrê. É um cara cheio de inquietações e dúvidas, com personalidade e empatia. Claro que o filme deve ter selecionado os personagens mais emblemáticos que ele encontrou pelo caminho, mas também são personagens profundos, com nuances.
É lindo de ver o momento em que ele tem sua epifania, nada épica ou grandiloquente. É simples e pessoal como deve ser, com recursos cinematográficos contidos. Enfim, mais um filme obrigatório, especialmente para quem não está em paz com o mundo, mas gostaria de estar. É justamente aí que a minha tilápia entra nessa história, mas não quero bancar a spoiler então não vou falar sobre isso.
Mas vem cá, estou sendo muito Poliana-moça ou o mundo está ficando ligeiramente menos maniqueísta?

O peixe não é mais aquele

Fiz tudo certinho. Descongelei o peixe, temperei com limão siciliano, pimenta do reino e um tantinho de tomilho. Preparei o creme de espinafre com um pouquinho de noz moscada ralada na hora. Coloquei o peixe entre camadas do creme e levei ao forno. Tudo ficou uma delícia. O único problema é que o peixe estava com gosto de terra.
Não é a primeira vez que isso acontece. Parece que tem a ver com criação em cativeiro. Uma vez um amigo do meu pai foi pescar no Pantanal e nos trouxe um pacu. Acho que é o peixe de rio mais gostoso que tem. É bem gorduroso, então se você rechear com uma farofa de pão ela frita lá dentro e fica crocante. Sensacional. Só que o pacu era de pesqueiro e tinha um baita gosto de terra. Alguém, na época, explicou que o peixe fica estressado e come terra. Outra pessoa disse que é por causa de uma alga que prolifera em água meio parada.
Pesquisei sobre isso e parece que o Sebrae já está ensinando uma técnica para evitar isso em peixes de criação. Claro que seria muito mais legal se a gente pudesse comer tudo do jeito mais natural possível, mas era uma vez um Pantanal se todo mundo tiver de se alimentar de peixe de água corrente.
A simples existência do homem cria essa dinâmica. Toda descoberta e toda técnica detonam alguma coisa, aí precisa inventar uma coisa pra corrigir aquela. Mas não adianta querer voltar à natureza selvagem. Não tem mais volta.

terça-feira, 8 de julho de 2008

A cama e eu

A cama e eu nunca fomos uma entidade. Não que eu não goste de dormir, mas eu durmo porque é preciso. Sempre dormi o suficiente e não gosto de ficar na cama por ficar. Não que no inverno eu não tivesse preguiça de levantar às 6h pra ir na escola. Mas dormir pra mim é o que é comer pra muita gente. Uma necessidade, não um prazer.
Daí você começa a não ter vontade alguma de sair da cama, mas seu corpo não está acostumado. Se você vai dormir às 10 da noite, vai acordar às 4, é batata. E ficar fritando até cochilar de novo e perder a hora.
Ontem deitei no lençol limpinho às 11h. A faxineira tinha trocado o lençol e deixado tudo arrumadinho. Entrei sem bagunçar a cama, olhando pra cima, meio múmia. Virei de lado pra fingir que não estava morta.