Meia quadra. É exatamente essa a distância que separa meu apartamento de um projeto social que tem tudo a ver com um trabalho que estou tentando fazer em São Paulo e não consigo colocar em prática.
No primeiro dia, quando saí para explorar os arredores, vi o corredor comprido, com uma grade de ferro e paredes grafitadas. Cara de projeto social. Na hora quis saber o que era, mas como sei que minha curiosidade acaba sempre me metendo em enrascadas, fingi que não vi.
No sábado, fui comprar o jornal e, do lado da entrada, havia um mercado público com bancas de artesanato e alimentos orgânicos, resultado de projetos sociais no interior. Dei uma olhada geral, ainda estava abrindo, e caí fora antes de ser recrutada para alguma coisa.
Mas não adianta fugir, não é mesmo?
Logo que abri o caderno de sábado do Clarín, bati o olho na notícia da estreia de um documentário sobre a gravação acústica do CD da banda “Las pastillas del abuelo”. O que me chamou a atenção foi que o documentário também falaria sobre a produção da capa do CD, feita pelas mulheres do grupo Yo No Fui, um projeto social com presidiárias, que trabalha com serigrafia.
Fiquei meio de bode porque a máquina engoliu meu cartão ontem pela manhã, então resolvi ficar na minha e até trabalhei um pouco no sabadão à noite. A TV a cabo tem uma infinidade de canais, vi um filminho, depois American Idol que está divertidíssimo com JLo e Steven Tyler como jurados.
Descobri que o documentário ia passar hoje de novo no Malba, que não é muito longe daqui, e me organizei para ir.
Por Dios!
A banda é incrível, ótima música, já virei fã. E o projeto... tem tudo a ver. Muito mais do que artesanato e serigrafia, o Yo No Fui começou com poesia, que é o que estou tentando desenvolver em São Paulo.
Ano passado participei durante uma tarde do projeto de música e dança que minha amiga Monica Jurado desenvolve com um grupo de mulheres em um presídio na Zona Norte. Foi um dos momentos mais emocionantes que já vivi. São mulheres do mundo todo, cada uma fala uma língua, mas os problemas são os mesmos. E todas cantam e dançam juntas, e assim soltam seus demônios. Muitas foram presas por tráfico de drogas e isso talvez explique porque tantas são ótimas cantoras. Muita gente ligada ao mundo das artes que vacilou. E desde então quero participar e pensamos em desenvolver alguma coisa com poesia, mas não consigo dar uma forma à ideia, fico andando em círculos.
Amanhã vou lá. Espero que isso seja uma força centrípeta que me jogue para fora desse círculo infinito.
Um comentário:
Continua!!! Estou adorando!! Alexandra /Ale
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