Uma das melhores coisas que existem é bater de frente com a nossa própria ignorância. Por mais que a gente seja atento e tente estar sempre preparado, às vezes a rotina passa a perna na gente. Aí temos a chance de ter uma surpresa boa, quando parece que a vida está sendo sempre mais do mesmo, ou quando a gente tá achando que sabe tudo. Hoje foi assim.
Me chamaram pra cobrir um evento e a semana estava tão louca que não consegui nem pesquisar quem era o palestrante. Esses eventos são sempre classe A, com os mega-master-plus-top-fodidos de administração e marketing. Não que esse seja um dos meus assuntos favoritos, mas os caras são tão bons e trazem tantos insights que sempre saio cheia de (mais) idéias.
Qual não foi minha surpresa hoje quando o palestrante era ninguém menos do que Chris Anderson, editor da Wired e autor da teoria da cauda longa, um termo que está na boca do povo (pelo menos na desse povo).
Tinha justamente comprado a Wired deste mês, olhado pra cara dela e dito, puta que pariu, essa é uma das melhores revistas do mundo. Os caras conseguem trazer uma matéria sensacional sobre ressonância magnética funcional, ao lado de outra sobre os efeitos especiais dos filmes do Guillermo del Toro (dois temas sobre os quais escrevo há 15 anos), um novo game do Spielberg e uma capa sobre os mitos da sustentabilidade e a necessidade de pensar grande sobre isso. São provocadores e cínicos, sem serem escrotos.
Bom, eu sou uma geek light, e realmente gosto de ler sobre gadgets, neurociência, sustentabilidade (sem fanatismo) e até química (se o Renato Russo tivesse lido Oliver Sacks ele jamais teria feito aquela música).
Anderson falou sobre o primeiro livro dele, justamente esse da cauda longa (muito basicamente, ele diz que a Internet trouxe espaço para a segmentação e os produtos de nicho, ao contrário dos produtos de massa do século 20 - parece uma coisa velha, mas foi o cara que disse isso, em 2004). E também sobre o próximo, que sai este ano e chama Free. Para ele, vários aspectos da Internet tendem a se tornar grátis, como aconteceu com o e-mail. E isso vai gerar outras oportunidades de negócio.
Aí um cara da gravadora Trama, para ser engraçado, perguntou se o livro dele ia ser grátis, provocando por causa da polêmica de pirataria de músicas. "Claro", Anderson respondeu. "Vai estar disponível na Internet e para download. Vai ter uma versão impressa patrocinada, que vai ser distribuída grátis com anúncio na capa. E uma versão capa dura, sem propaganda, à venda por U$ 29. Vou dar o livro de graça porque esse não é meu negócio. Eu não vendo livros. Mas graças às idéias que publico nos livros é que estou aqui, dando palestras, e com isso ganho dinheiro. Quando eu era garoto também tinha banda, e não era para ganhar dinheiro. Era uma diversão e uma forma de me aproximar das garotas. Ler meu livro não é a mesma coisa de assistir uma palestra, e ver um show ao vivo é uma experiência muito melhor do que ouvir música. É aí que se ganha dinheiro."
Tive que agradecer o cliente pela oportunidade. Não é todo dia que a gente ganha dinheiro pra ouvir alguém falar coisas legais. Pois esta é, cada vez mais, minha maneira preferida de ganhar dinheiro.
2 comentários:
Oi Liz, tudo bem?
Nâo sei se vc sabe, mas a teoria da cauda longa é o tema da minha mono (que vou fazer ano que vem). Precisamos MESMO nos encontrar pra vc me passar tudo o que você ouviu nessa paletra...rs
Não sabia não. A palestra foi muito em cima do primeiro livro, que fiquei morrendo de vontade de ler. Já fui seca na livraria comprar, tava esgotado. Você tem?
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