Tinha essa música, cantada pelo Toquinho, em que ele dizia que andava escravo da alegria e que, naquela época, isso não era normal. Claro, devia ser época da ditadura, era até indecente ficar tão alegre, mesmo apaixonado. Mas hoje ficou vergonhoso sentir tristeza. Só quem é paciente psiquiátrico e toma tarja preta tem o direito de andar triste e cabisbaixo. O resto da população não pode. Tem que pular carnaval, gargalhar no boteco tomando cerveja até de manhã, tomar ecstasy e virar gasparzinho. E o pior é que exportamos essa imagem para o mundo.
Chego em Buenos Aires, é janeiro, e a gringolândia só quer saber onde vou passar o carnaval. Em casa, criatura, em São Paulo, no cinema, feliz da vida, cidade vazia. No máximo pegando uma piscininha no sítio, tomando um solzinho de leve. Ninguém acredita. Mas você não é brasileira? Sim, e daí? Já pulei carnaval, já até gostei de axé, mas perdi a vontade depois que isso virou obrigatório. Explico pro gringo, que é inglês mas dá aula de literatura na Coréia e não cabe em si de contentamento de estar indo passar o Carnaval no Rio (ou na Bahia, enfim...): "Carnival is the dictatorship of happiness, you know? It's too much happiness for me". Ele não se faz de rogado: "Well, I call handle..." Aproveita, gringo, aproveita que nessa terra gente de fora sempre foi melhor tratado do que os nativos.
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