É engraçado pensar em como tinha tanta certeza de tudo e como hoje acho tudo relativo, impreciso, improvável. Quando prestei vestibular no segundo colegial, o tema da redação era, basicamente: "você acha que tudo é relativo? argumente". A prova trazia um quadro de Magritte com um cachimbo e uma frase: Isso continua a não ser um cachimbo.
Depois vinha um verso do Pessoa que dizia:
"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia."
Achei muito fácil dizer que sim, tudo era relativo, e optei por uma argumentação cética dizendo que não, tudo aquilo era muito poético, mas a vida é dura para quem é mole. Estava no segundo colegial, podia trucar. Deu certo, convenci, e passei em sânscrito, que era o que a gente prestava pra treinar naquela época.
No ano seguinte prestei de novo, entrei em jornalismo, mas não me lembro do tema da redação. Nunca esqueci daquela, porque a questão que nunca me abandonou. A vida é o que é? Ou tudo é relativo?
Na verdade, ainda não sei. Tem coisas que são, ou aparentemente são, daqui a pouco não são mais, e assim vai. Não tem grandes dramas, é só esquecer de querer ser tão coerente e assumir a esquizofrenia.
Um comentário:
Eu lembro. Tb Pessoa: "tudo vale a pena qdo a alma não é pequena"...lembro que eu argumentei que nem tudo vale a pena. Achava q tinha coisas que a ética ou a moral ou uma cara de pouco pau devia nos impedir de fazer...nem tudo podia valer a pena se a alma não fosse pequena... Bons tempos.
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