quinta-feira, 13 de março de 2008

A vida é feita de som e de culpa

Uma conversa furtada no café da ruelinha do ABN, aquele beneficente. Uma atendente diz para a outra:
— Uma amiga minha, sabe? Trabalha no Amor aos Pedaços. Na véspera do Natal, ela resolveu pintar a unha de vermelho de manhã, porque ela ia sair às 10 da noite. Cê sabe que quem trabalha com comida não pode pintar a unha, né?
— Sei.
— Então, daí uma cliente viu e falou isso pra ela, que ela não podia pintar a unha.
— Hum.
— Aí ela respondeu: "A senhora vai passar o Natal com a sua família?" E a mulher, claro, respondeu que sim. "E a senhora vai se arrumar, fazer o cabelo, a unha?" Claro, a mulher respondeu. "Então. Eu também", ela falou. "Mas só saio daqui às 10, né? Então tive que fazer a unha de manhã."
Segundo a atendente, a mulher ficou tão sem graça de ter peitado a vendedora que deu 50 pilas pra moça ir fazer o cabelo.
No fundo, a mulher não tava errada. Ninguém morre se passar o Natal sem pintar a unha de vermelho. E em qualquer lugar sério, quem trabalha com comida não pode pintar a unha, porque esconde a sujeira, porque pode descascar no prato alheio.
Mas a criar caso realmente é um problema sério neste país.

Nenhum comentário: