segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Vergonha na cara - III

A última palestra que assisti hoje foi de um professor da FGV-RJ, um figura, debochado, divertido, que bota o dedo na ferida. Um iconoclasta. Ano passado já tinha assistido o cara, e este ano a palestra foi bem parecida. Ele foi o primeiro brasileiro a fazer doutorado em desenvolvimento sustentável e afirma - diante daquele monte de gente que a princípio só vê dinheiro na frente - que não adianta, não tem jeito, problema "ambiental" não existe: existe problema social e de produção.
Quer dizer, não adianta dizer que o ar está poluído. Por que está poluído? Porque o padrão de consumo é absolutamente inviável. Não adianta criar catalisador, tem que parar de andar de carro. Não adianta discutir política ambiental. Tem que discutir a mudança do paradigma do consumo. Simples assim.
Ele também diz que a verdadeira globalização é a dos problemas ambientais. Cita dados de telefonia e internet, que estão longe de ter se disseminado totalmente no planeta, e mostra o exemplo do Chile em relação à destruição da camada de ozônio. Segundo ele, a América Latina inteira responde por 3% do CFC que é liberado na atmosfera. Desses 3%, Brasil e México são responsáveis por 1,5%. Peanuts, certo?
Pois o maior problema de buraco na camada de ozônio está em cima da Patagônia e vem matando muitos animais e criando problemas de saúde pública tão graves que o Chile já pensa em decretar o toque de recolher ecológico, proibindo as pessoas do sul do país de ficarem expostas ao sol entre 11h e 15h. Vejam só a ironia da coisa: as ovelhas da Nova Zelândia soltam seus gases na atmosfera e assim contribuem para que as ovelhas chilenas fiquem com catarata...
As histórias e exemplos foram muitos, mas no final ele se confessou um otimista, porque disse que em 30 anos, desde a conferência ambiental de Estocolmo, o assunto que sequer era abordado hoje está aí e ninguém nega que desenvolvimento sustentável é a única saída.
Eu estava apostando nessa tal de crise para chacoalhar de forma mais profunda essas estruturas e dar um revertério no tal do desenvolvimento. Ninguém aguenta mais trabalhar tanto, fala sério... E se a gente não gasta comendo demais, gasta comprando roupa que logo não serve porque a gente tá gorda, ou em tratamento médico e psicológico, ou em academia pra combater o sedentarismo...
Infelizmente, essa para mim foi a notícia mais desanimadora do dia, que eu vi em outra palestra: a crise vai prejudicar bastante o sistema produtivo, não vai quebrar bancos, e no final do segundo semestre do ano que vem o pessoal já pode começar a pensar em trocar de Pajero. Blé...

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