sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

O poder ultrajovem no poder

Pense em tudo o que você não teria aprendido ao longo da vida se seus pais tivessem deixado você decidir tudo o que queria desde a infância. Quantas músicas não teria ouvido, quantas comidas não teria experimentado, quantas pessoas não teria conhecido. Outro dia um primo, que tem duas filhas de 12 e 10 anos e um menino de 8, estava dizendo que eles têm um acordo. As crianças só podem ouvir High School Musical no carro da mãe. No carro dele, é ele quem manda na programação musical. "Porque se a gente deixar", ele disse, "elas nunca vão ouvir nada além disso."
Minha irmã e eu passamos a vida inteira reclamando de ter de ouvir Jovem Pan AM de manhã quando estávamos indo para a escola. Só de ouvir o "Vambora, vambora, olha a hora..." a gente tinha arrepios. Mas ninguém morreu por causa disso e com certeza éramos mais bem informadas do que algumas colegas.
Hoje os pais têm filhos e ficam completamente fora do mundo. Ninguém mais vê filme de adulto, nem lê livro de adulto, nem assiste programa de TV de adulto. Talvez seja uma estratégia escapista, mas é fato que as crianças hoje têm um poder muito maior do que a gente teve. O resultado não é legal. Graças às vontades e gostos dos meus pais e avós, hoje conheço muito de música, não tenho frescura pra comer e suporto bem situações que a maioria das pessoas acha mala. Melhor pra mim.
Tem uma crônica do Drummond, publicada num daqueles volumes chamados "Para gostar de ler", coletâneas que a Ática publicava na década de 80, que justamente chama "O poder ultrajovem". Era sobre um pai que leva a filha pequena pra jantar fora e os dois ficam discutindo o que vão comer, porque o pai quer pedir uma lasanha pros dois e a menina quer comer camarão. Claro que a menininha dá um nó no pai, mas naquela época isso tinha graça porque era incomum. Era só o começo da ditadura da infância que hoje assumiu o poder.

3 comentários:

Giovani disse...

Liz, acho que o ponto chave de tudo isso é a questão do acesso. No mundo de agora, tudo é possível. Acabou-se o desconhecido.
Mas ó, mas eu sou da turma que acha que criança tem que fazer "coisa de criança". Foi tão interessante descobrir que cebola é gostosa só depois de 18 anos de vida...

LizandraMA disse...

Tem uma coisa que acho que vc não entendeu. Quando falei de filme e livro de adulto, estava me referindo aos pais, não às crianças. Também acho que criança tem que fazer coisa de criança. Só não acho que elas têm que ser poupadas de tudo e anular o direito dos pais de gostarem de alguma coisa. Porque tenho reparado que isso acaba acontecendo - e o resultado é que muitas delas acabam parecendo pequenos adultos, porque escolhem a roupa igual à da mãe, vão ao cabeleireiro e viram aquelas mini-Barbies freaks que a gente vê por aí...

Sill disse...

Putz! Ouvi alguém comentar por estes dias que não aguentava mais a ditadura infantil. Acho q se referia a onda do High School. Detesto sair c amigos e parentes e ter q comer ou fazer o programa dos filhos pq se não, não vai rolar. Criança tem q fazer coisa de criança e pais coisas de pais, ou seja, dividir mtos momentos c os filhos mas ter seus momentos p cultivar a cultura de adulto c os amigos, a dois ou a sós... e os filhos tem q aprender a compartilhar estes momentos tb. Gostar é isso.
bj Sill