quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Limites

Trabalhei uma vez em um evento médico, organizado pela minha irmã, coordenando as recepcionistas das salas de aula. Resolvi ficar para ver uma aula de neurorradiologia e foi muito legal quando o médico mostrou uma figura didática de um cérebro humano, com as subdivisões por área funcional. Em azul claro, digamos, a memória. Em vermelho, a fala; em verde, as funções motoras. E por aí vai.
Aí, disse ele, é assim que a gente aprende na faculdade. Mas quando chega a hora de abrir uma cabeça no centro cirúrgico, o que a gente vê é bem diferente.
E então ele mostrou uma imagem do cérebro real, dentro de uma cabeça aberta, de um paciente na sala de cirurgia. Tudo vermelho. Sem nenhuma demarcação entre uma função e outra. É aí que entram os exames de imagem, ele explicou, para tentar prever que área pode ser afetada na cirurgia, e se pode haver alguma sequela inesperada.
Lembrei disso hoje, voando de São Paulo para João Pessoa. De cima, via cidades, morros, paisagens, pequenos bosques, plantações. Nenhum limite geográfico, nenhuma fronteira entre municípios. Sobrevoei uma meia dúzia de estados, pelo menos, e não vi linhas demarcatórias. Só uma continuidade das paisagens mais diversas, morros escuros, pedregosos, estradas de terra, concentrações de mata em vales de rio.
Que coisa, né? O mundo não é um mapa. As fronteiras geográficas talvez sejam ainda mais arbitrárias do que as regiões funcionais do cérebro.
Por isso é que sempre gostei mais de viajar do que de aulas de geografia.

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