sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Felicidades e felicidades

Eu sou assim, digamos, uma Poliana sarcástica. Cínica não, que o cinismo abandonei junto com o ex-marido e o jornalismo. Mas sarcástica sim. E Poliana.
Ontem chegou minha encomenda da FNAC. Tinha um montão de pontos acumulados e quando é "de grátis", mesmo não sendo, você fica mais permissiva. Comprei dois CDs de novas mulheres cantoras adoráveis, brasileiras. Sim, eu sou dessas loucas que ainda compram CDs, e sim, essa mídia ainda existe.
Enfim.
Abri o pacote, e além dos dois CDs, três livros. Dois escritos por mulheres. Os dois com algo de felicidade no título. Um poliânico, um sarcástico. Reparei só quando vi os dois lado a lado, na mesa da cozinha. Um, o poliânico, é a nova coletânea de crônicas da Martha Medeiros, "Feliz por nada". Ela escreve aos domingos no Globo e gosto tanto dessas crônicas, são sempre tão equilibradas e bem resolvidas. Já peguei, comecei a ler, engatei duas ou três, quero ser do contra e não consigo, não é autoajuda, é simples, mas é profundo, me deixa contente, porque é pé no chão, não é rosa pink, é um rosa mais pálido e seco, é seda, não é tafetá. Gosto, isso, gosto e me identifico.
O outro é "Felicidade demais", de contos da canadense Alice Munro. Pelo título já se vê, poliânico não é. E o primeiro conto... já é uma paulada. Essas escritoras canadenses, viu? Que percepção. Margaret Atwood é outra, pelamor. É tão agudo, dói no fígado. São histórias de mulheres, pelo visto, personagens construídas com uma observação incomum, de alguém que sabe calçar os sapatos alheios. E você pensa: não é possível, isso não é inventado; ela deve ter conhecido alguém assim.
Eu, por exemplo, já me senti assim:
"Ela devia ter percebido, e naquele momento, mesmo que ele ainda estivesse longe de perceber. Ele estava ficando apaixonado.
Ficando. Sugeria um período de tempo, um deslizar para dentro. Mas se poderia pensar numa aceleração, um momento ou o segundo exato da queda. Agora Jon não está apaixonado por Edie. Tique. Agora está. Era impossível de conceber como provável ou possível, a não ser que se pense em termos de um tiro no meio da testa, uma calamidade súbita. O golpe fatal que aleija um homem, a brincadeira maldita que transforma olhos claros em pedras cegas."
Que felicidade se reconhecer em personagem de livro bom...

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