segunda-feira, 4 de maio de 2009

Temporal

O vento latente inquieta. Ainda nem começaram as rajadas e todos já estão eletrificados. As coisas caem sem porquê. A xícara entorna sozinha o café com leite sobre a camisa recém vestida. A vassoura ensaia um voo improvável depois de um chute de leve e derruba o vaso. Os gatos eriçam os pelos e se escondem no fundo dos armários.
As árvores aproveitam para fazer a faxina geral e desprendem as folhas de outono e a galharia seca. As mais antigas, incrustadas de cupins, se acautelam. Foi em outra ventania como essa que a outra caiu, arrastando fios elétricos e arruinando carros.
As pessoas correm sem pressa, só para fugir desse peso suspenso, dessa ânsia espantosa. O clima de iminência é tanto que contagia também a rede elétrica e um transformador explode na minha frente, deixando o bairro todo no escuro.
Aí vem a chuva. Começa com pingos grandes e esparsos, transforma o dia em noite, levanta o cheiro da terra por baixo do asfalto. Alívio provisório. Depois, caos.

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