terça-feira, 3 de março de 2009

O cortiço versão classe média

Já faz um tempo que eu queria escrever uma carta para todos os meus vizinhos aqui do predinho. São 16 apartamentos, mas nem todos estavam alugados, então devem ser uns 12 conjuntos de pessoas. E a minha janela, a do apartamento 1, dá exatamente para a calçada em frente. E tem um murinho muito propício a bate-papos de final de tarde e grupinhos de amigos. Acho realmente muito legal quando chego em casa mais cedo e tem vários vizinhos sentados conversando. Mas a maioria dos vizinhos não tem ideia do que eu ouço do meu quarto à noite.
Tem uma vizinha que separou de um cara que tem uma voz de Darth Vader bêbado. Ela tem uma voz ótima e parece estar sempre por cima da carne seca, quando começa a bater boca com o ex- e dizer como ele é um bosta. Mas depois de quase duas horas de quebra-pau, ela sempre chora.
Outro dia parece que ouvi o mesmo Darth Vader discutir um tempão com outro cara, a impressão que deu era que o outro tinha roubado uma garrafa de pinga ou coisa que o valha. Não devia ser o mesmo cara... Mas era mala e sem noção igual.
E tem os que ficam esperando a carona e falando no Nextel. Eu ouço não só a pergunta como a resposta.
De todos eles, os piores são, é claro, os de cima. Um dia vou poder dizer para o menininho que hoje tem uns dois anos e grita como os progenitores: não existe ninguém, além do seu pai e da sua mãe, que saiba mais da sua vida do que eu. Eu não te carreguei no colo, mas ouvi sua concepção.

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