domingo, 15 de novembro de 2009

Elegia

Ressuscitei esses dias um CD do Caetano (Cinema Transcendental) que tem essa música.
Engraçado que esta semana entrevistei o poeta Ferreira Gullar para a revista Casa Claudia Luxo (na próxima edição, quatro materinhas minhas que adorei fazer), responsável pelo Manifesto Neoconcreto.
Os neoconcretos - Helio Oiticica, Lygia Clark, Lygia Pape, Amílcar de Castro e outros - questionavam a matemática e o racionalismo dos concretistas, propondo uma arte que despertasse os sentidos.
Mas é do concretista Augusto de Campos a letra dessa música, uma das melhores definições de mulher que conheço, sensível com um toque impagável de safadeza. Essa mão, hummmmmmm...

Elegia
(Péricles Cavalcanti e Augusto de Campos)

Deixe que minha mão errante adentre
Atrás, na frente, em cima, embaixo
Entre

Minha América, minha terra à vista
Reino de paz se um homem só a conquista

Minha mina preciosa, meu império
Feliz de quem penetre o teu mistério

Liberto-me ficando teu escravo
Onde cai minha mão, meu selo gravo

Nudez total: todo prazer provém do corpo
(Como a alma sem corpo) sem vestes

Como uma encadernação vistosa
Feita para iletrados, a mulher se enfeita
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns a que tal graça se consente
É dado lê-la

2 comentários:

Joaquim disse...

Lizandra, belissima música realmente, mas a letra não é de A. de Campos e sim tradução e adaptação de A. de Campos para um poeta ingles John Donne, seminarista e contemporaneo de Shakespeare, de uma olhada nesse blog, tem um trecho do poema e outro muito bom tambem, "a pulga"

http://recantodaspalavras.wordpress.com/2007/10/20/john-donne-elegia/

ateh jah
beijim do jotaquim

LizandraMA disse...

Que ótima indicação, o poema original é incrível, ainda mais pensando em quando foi feito. Muito melhor do que a adaptação, que eu já adoro. Valeu, obrigada!!!!