Mesmo quando eu era pequena, nunca fui uma criança muito fantasiosa. Nunca tive amigos imaginários e já tinha uma pontinha de perfeccionismo que não me fazia aproveitar tanto as brincadeiras de faz-de-conta. Uma vez quis montar um circo de cavalinhos que nem o da Emília no meu quintal. Inventamos um monte de atrações, mas achei tudo tosco e não tive coragem de mostrar pra ninguém. Eu devia ter uns 11, 12 anos.
Talvez seja por isso que achei tão rampeira minha primeira ida a um sex shop. Claro que a gente deu boas risadas, mas alguém se excita com aquilo? O lugar já é péssimo. Um piso frio cinza escuro, paredes bege, um biombo de tapume reciclado com as "promoções" penduradas, luz fluorescente. Nas prateleiras, uns pintos tamanho garanhão puro-sangue, nas tonalidades standard e afro, vêm num saco plástico transparente grampeado no papelão com a marca: Rodrigues Produtos Eróticos ou coisa que o valha. Não consegui conferir porque a empresa não tem site. Nem no Geocities.
As embalagens são todas assim: ou um cara de bunda de fora fazendo biquinho e segurando um consolo alargador de ânus ou uma loira peituda americana de cabelo a la Farrah Fawcett mostrando as entranhas. A noção de feminino não passa de rosa-pink furta-cor e o produto mais lúdico que encontrei era um vibrador que parecia um Playmobil com um chapéu de guarda real britânica.
Lembrei de uma lojinha erótica cool que abriu na Vila Madalena há pouco tempo. Tinha lingeries incríveis, versos da Hilda Hilst adesivados nas paredes e brinquedinhos divertidos em embalagens diferentes. Por que será que não durou? Será que é cabeça demais? Ah, vai, um pouquinho de glamour não faz mal a ninguém, fala sério.
Se é pra bagaça ser tosca, acho que a ala de garrafadas e ervas para aumentar a potença que eu vi no mercado Ver-o-Peso de Belém é muito mais legal. Muito mais divertido e lúdico, os rótulos e nomes são muito mais criativos, as embalagens de garrafas de cores e tamanhos diferentes são muito mais estilosas.
Antes um cabra porreta do que o pinto do Rodrigues!
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