segunda-feira, 15 de junho de 2009

Pelo direito de ser mutante

Acho que a medicina deveria tratar todos os seres humanos como mutantes. Vá lá que ainda não apareceu ninguém azul com escamas, nem com pele de diamantes, sequer com garras nas juntas dos dedos. Apesar de que tem quem me convença a fazer coisas só com o olhar, como a mulher do Wolverine.
O que quero dizer é que os médicos deveriam tratar nossas semelhanças como um acaso e não como ciência. Se eles partissem do princípio de que ter dez dedos é mera coincidência e não o que nos define como seres humanos, quem tem doze dedos ou mesmo nove seria tão normal quanto todo mundo. E não haveria piadinhas imbecis sobre o presidente. Não que ele não mereça certas piadinhas imbecis, mas vamos combinar que fazer piadinha sobre a falta de um dedo do presidente é o que há de mais imbecil no mundo das piadinhas.
Cada vez que vou fazer aqueles exames femininos , todo o ano, mais me convenço de que somos todos únicos, e que aquele monte de médias, estatísticas e limites são convenções que mais atrapalham do que ajudam. Ninguém quer saber de nada da sua vida, vão enfiando coisas, vira pra cá, vira pra lá, de repente você se vê com a cara amassada em uma placa de acrílico, enquanto uma placa de metal gelada faz as vezes de rolo de compressor de desenho animado e transforma seus peitos em uma folha de papel.
Quem dera nossas diferenças fossem tomadas como especialidades que nos definem. Num mundo em que todo mundo precisa ser tão especial para ser alguma coisa, o fato de minhas células se organizarem da forma como são organizadas deveria ser suficiente para que eu fosse eu mesma, mais ninguém. E para que isso, em si, já fosse muito especial.

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