Conheci um médico que tinha construído um quarto especial em sua casa para abrigar uma coleção de trens elétricos. Radiologista respeitado, tinha até um bonezinho de chefe da estação, várias locomotivas, vagões com os mais diferentes tipos de carga, e passava horas ali, vendo o brinquedo rodar (de boné). Outro que até já citei tem um apartamento com autorama e um videogame desses que você senta e tem uma direção para pilotar.
Minha prima namorou um figura que tinha não só um, mas dois hobbies – construía aeromodelos e tinha um aquário gigante. E para se concentrar mais e melhor naquilo, fumava maconha. Horrores. Conclusão: vivia esquecendo que tinha combinado de encontrá-la. E ela ficava lá no sofá até se encher, então vestia o pijama e ia dormir. Nem um telefonema.
Por que as mulheres não despertam a mesma paixão dos hobbies? Por que nenhum homem (não que eu conheça) esquece da vida explorando, descobrindo, dia após dia, ano após ano, todas as nossas minúcias e todas as nossas contradições?
Tudo o que a gente queria era alguém que prestasse atenção nos nossos detalhes, assim como presta atenção no solo de guitarra, nas jogadas de mestre de futebol. Alguém que conseguisse lembrar de pequenas coisas de que gostamos da mesma forma que lembra de todos os estados dos Estados Unidos (em ordem alfabética), de todas as capitais da Europa, de todos os anos em que o time foi campeão.
Mas não rola, né? Estou mapeando esses impossíveis para parar de sonhar com o que não existe. Funciona.
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