domingo, 29 de junho de 2008

I told you that I was trouble

... já diria a Amy. Eu costumo avisar logo de cara. Minha irmã me disse uma vez que eu falo certas coisas porque quero chocar as pessoas. O lance é que eu faço questão de não vender gato por lebre. Se alguém me pergunta quantos anos eu tenho, eu digo. Se alguém me pergunta se acredito em deus, eu cito o Alex Castro (é enorme, eu não concordo com absolutamente tudo, também não tenho conhecimento filosófico pra contrapor, mas basicamente ele fala tudo o que penso no item Sou ateu porque preciso).
Gosto de ser quem sou e de pensar o que penso, e mesmo assim sei que qualquer coisa que alguém me disser pode me fazer mudar de idéia. Então por que teria de me esconder? Se as pessoas me perguntam alguma coisa e não estão preparadas para as respostas, tough.
A filosofia de botequim básica é resultado do fato de ser domingo à noite, e eu estar aqui assistindo essa comedinha romântica já vista, Hitch, com o Will Smith. É muito engraçado, porque ele é consultor sentimental e tem um passado de mané. Eu sempre adoro essas bobagens, mas com o tempo você vai vendo porque definitivamente não se encaixa nelas. No meu caso, é justamente porque assim que eu conheço alguém que me interessa, eu deixo isso claro, assim como as outras coisas polêmicas. E me parece que segundo as comédias românticas americanas e a revista Nova, é preciso fazer um charme e dar uma canseira no cara.
A experiência de algumas amigas, infelizmente, corrobora o jeito Nova de ser. Acho engraçado. Parece que é uma coisa de mulher mesmo, achar sempre que o cara tá querendo se aproveitar e tal. E o cara achar que tem de dar um duro pra conquistar a pessoa. Comigo não adianta. Se estou a fim, estou. E se não estou, talvez possa ficar. Ou seja, além de ser sincera e de costumar dar uma chance pras pessoas, morreria de fome se precisasse viver de teatro. O que me resta é pensar é que, ora, se o sujeito realmente quiser alguém que se faça de difícil, que vá cantar em outra freguesia.

sábado, 28 de junho de 2008

Música no banho, uma necessidade

Depois de muito tempo, mais de um ano, consegui novamente ouvir música enquanto tomava banho. A gente se presta a cada coisa nessa vida que, sinceramente, não sei como é possível. Mais de um ano sem pular e dançar no banheiro, minha gente. Isso não é coisa que se faça.
Tudo porque acabei dando o som que morava no meu banheiro para a minha vizinha, que não tinha nenhum. Isso foi logo que a Laurence veio morar comigo. De um lado, alguém não ter um aparelho reprodutor de música é um problema muito grave; de outro minha frenchmate acordava tarde, então não dava pra ouvir música logo cedo.
Agora consegui acoplar meu MP3 player ching-ling numas caixinhas de som de computador e funcionou super. Pude comprovar em volume bem mais alto que eu realmente gostei do disco da Scarlett Johansson cantando Tom Waits. É sampleado? É. A voz dela é pobrinha? É. Mas eu gostei, falô? É sexy e divertido. Obrigada, Faber, por compartilhar seu iPod de verdade comigo!

Novas fábulas

Fui ontem assistir Wall-E na estréia. Estava louca para ver, mas quase mudei de idéia porque o filme praticamente não entrou com cópias legendadas. Fui mesmo assim e posso dizer que são tão poucos diálogos que realmente não faz mal.
Já estou bem melhor da minha crise ultra-romântica, então não me emocionei com o romance de dois robôs como aconteceria em outros tempos. O que me emocionou de verdade foi saber que havia gente por trás de tudo aquilo. Muita gente execra a tecnologia ou acha que esses filmes são coisas pra criança. São também, ainda bem. Mas são feitos por pessoas e eu gostaria muito de conhecer cada um daqueles nomes dos créditos. Adoro animação porque são mundos novos e personagens improváveis, totalmente criados da cabeça de alguém, como só há paralelo na literatura.
Pra mim, além de toda a lição de humanidade e meio ambiente do filme, duas coisas foram muito especiais. A primeira é que os dois robôs protagonistas vão parar no manicômio dos robôs. E se existe um momento em que todos aqueles robôs são humanos é quando estão ali, enjauladinhos, descontrolados e cheios de tiques. E é com essa legião de robôs out-of-order que começa a revolução.
A segunda coisa foram os créditos finais. Em geral aí já estou chorando, mas só comecei quando entendi que ali estava o final do filme. Não sei se o que vou dizer é spoiler, não vou dar detalhes, mas muito simplesmente é a história humana, expressa nas principais fases da História da Arte.

Profecia

Outro dia, estava tomando banho e uma lagartixa nenê subiu na minha perna. Nunca tinha ouvido falar ou visto uma lagartixa chegar tão perto de gente, inda mais embaixo dágua. No dia seguinte, deixei meu iBook aberto e na cozinha e levei pro quarto pra ver um filme que estava gravado. Quando abri, tinha uma barata querendo morar ali. Lembrei da Cássia e achei que está na hora de um sapo pular na minha banheira.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Um dia eu

Já faz vários anos que decidi o que vou pedir se me aparecer um gênio da lâmpada. Tenho uma lista de pessoas para quem desejaria que o gênio as transformasse em mim por um dia. Um dia só. Com todos os pepinos que eu tenho pra resolver. E, claro, com todas as preocupações que eu tenho também. E as crises existenciais. Cada vez que alguém banca o sem-noção, porque não tem o que fazer e acha que eu também não tenho, incluo essa pessoa na lista do gênio. A lista só faz aumentar.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Diálogos possíveis*

Outro dia um amigo me perguntou se eu, que tenho tantos amigos cineastas, não tenho vontade de fazer um filme. Não tenho não.
Ficção não rola. Nunca tive amigos imaginários. Quando começo a pensar num personagem, só consigo me lembrar de histórias reais. Tem umas tão boas que parece que nada que possa sair da minha imaginação vá fazer frente. Também acho que vou acabar sendo meio maniqueísta, careta. Não, não rola.
Já no caso do documentário, o drama é outro. Pensa bem. É você, uma câmera, e a vida de uma pessoa, ou de várias. É uma intimidade enorme. A câmera vê além do olho. A câmera tem zoom. A câmera não tem contato visual.
Uma entrevista já é um exercício de humanidade, de entrega. Tenho a impressão de que se eu não falasse de mim, também não ouviria muito. É uma troca. Com uma câmera no meio, cadê?
Assisti três documentários suecos feitos por alunos, na seqüência. Um é um pouco barroco, mas o entrevistado é o roteirista Tonino Guerra, que participou da concepção do filme. Ele não conta toda a vida, só conta de sua paixão por pincéis usados, o que rende lindas histórias. A liguagem é careta, mas o diálogo é pleno.
Outro tem um personagem interessantíssimo, mas o filme não flui. E não flui porque a entrevista não chega lá. Mas o interesse persiste, então dá pra assistir. O terceiro é um exemplar do que mais me incomoda em documentários: a visão do estrangeiro sobre o exótico terceiro-mundista. É o formato que mais fascina. Mas a falta de compreensão do outro fica sempre por um fio. A câmera invade.
As pessoas assistem Big Brother. Eu não consigo. Não posso correr esse risco. Não, acho que não vou fazer filmes.

* A expressão é da minha professora de redação jornalística, Cremilda Medina, que escreveu um livrinho chamado "Entrevista, o diálogo possível".

quarta-feira, 4 de junho de 2008

... mas também da palavra

À tarde cobri outro evento, sobre produção audiovisual, outro dos meus temas. Gente amiga pra todos os lados, sempre um prazer. Comprei livro novo da Rosa Montero, este sobre mulheres incríveis. Resolvi largar o carro e vir de ônibus, só pra poder continuar lendo. Hoje não vou conseguir cumprir minha meta de curtas. Que me desculpem os escandinavos, alemães, austríacos, suíços e italianos que repousam ao lado da TV, mas hoje vou pra cama com a espanhola.

Nem só de pão vive o homem

Uma das melhores coisas que existem é bater de frente com a nossa própria ignorância. Por mais que a gente seja atento e tente estar sempre preparado, às vezes a rotina passa a perna na gente. Aí temos a chance de ter uma surpresa boa, quando parece que a vida está sendo sempre mais do mesmo, ou quando a gente tá achando que sabe tudo. Hoje foi assim.
Me chamaram pra cobrir um evento e a semana estava tão louca que não consegui nem pesquisar quem era o palestrante. Esses eventos são sempre classe A, com os mega-master-plus-top-fodidos de administração e marketing. Não que esse seja um dos meus assuntos favoritos, mas os caras são tão bons e trazem tantos insights que sempre saio cheia de (mais) idéias.
Qual não foi minha surpresa hoje quando o palestrante era ninguém menos do que Chris Anderson, editor da Wired e autor da teoria da cauda longa, um termo que está na boca do povo (pelo menos na desse povo).
Tinha justamente comprado a Wired deste mês, olhado pra cara dela e dito, puta que pariu, essa é uma das melhores revistas do mundo. Os caras conseguem trazer uma matéria sensacional sobre ressonância magnética funcional, ao lado de outra sobre os efeitos especiais dos filmes do Guillermo del Toro (dois temas sobre os quais escrevo há 15 anos), um novo game do Spielberg e uma capa sobre os mitos da sustentabilidade e a necessidade de pensar grande sobre isso. São provocadores e cínicos, sem serem escrotos.
Bom, eu sou uma geek light, e realmente gosto de ler sobre gadgets, neurociência, sustentabilidade (sem fanatismo) e até química (se o Renato Russo tivesse lido Oliver Sacks ele jamais teria feito aquela música).
Anderson falou sobre o primeiro livro dele, justamente esse da cauda longa (muito basicamente, ele diz que a Internet trouxe espaço para a segmentação e os produtos de nicho, ao contrário dos produtos de massa do século 20 - parece uma coisa velha, mas foi o cara que disse isso, em 2004). E também sobre o próximo, que sai este ano e chama Free. Para ele, vários aspectos da Internet tendem a se tornar grátis, como aconteceu com o e-mail. E isso vai gerar outras oportunidades de negócio.
Aí um cara da gravadora Trama, para ser engraçado, perguntou se o livro dele ia ser grátis, provocando por causa da polêmica de pirataria de músicas. "Claro", Anderson respondeu. "Vai estar disponível na Internet e para download. Vai ter uma versão impressa patrocinada, que vai ser distribuída grátis com anúncio na capa. E uma versão capa dura, sem propaganda, à venda por U$ 29. Vou dar o livro de graça porque esse não é meu negócio. Eu não vendo livros. Mas graças às idéias que publico nos livros é que estou aqui, dando palestras, e com isso ganho dinheiro. Quando eu era garoto também tinha banda, e não era para ganhar dinheiro. Era uma diversão e uma forma de me aproximar das garotas. Ler meu livro não é a mesma coisa de assistir uma palestra, e ver um show ao vivo é uma experiência muito melhor do que ouvir música. É aí que se ganha dinheiro."
Tive que agradecer o cliente pela oportunidade. Não é todo dia que a gente ganha dinheiro pra ouvir alguém falar coisas legais. Pois esta é, cada vez mais, minha maneira preferida de ganhar dinheiro.

terça-feira, 3 de junho de 2008

There is a hole in my heart for so long

A imagem que me vem à cabeça de vez em quando é a de um buracão, bem no meio do peito, varando o coração. Um buraco asséptico, nada ensanguentado, que eu passo mal com entranhas.
Aí o buraco está lá e fico pensando em como preencher todo aquele espaço, porque dói. Uma pessoa não é suficiente, nem todos os amigos do mundo. A música faz eco, às vezes parece que completa, mas é só impressão.
Aí eu lembro de um game japonês genial, o mais insólito que já vi. Chama Katamari Damacy. A história é assim: o rei ficou bêbado e destruiu várias estrelas. Aí ele manda o filho, que é um bonequinho minúsculo, buscar coisas pra fazer novas estrelas. O hominho chega nos planetas e começa a empurrar as coisas. Elas vão aderindo umas nas outras e formando esferas enormes, de coisas grudadas. Conforme a bola aumenta, ela gruda coisas maiores. Isso inclui gatos e depois golfinhos e até elefantes, que ficam se debatendo ali no meio. Até que a bola engole tudo do planeta e pode virar a nova estrela. A música é ótima, o rei é hilário e o jogo é totalmente nonsense.
Aí cai a ficha que também não adianta ficar juntando coisas, porque não vai caber uma bola cheia de coisas grudadas no buraco. A imagem é justamente essa: o buraco com uma bola dessas meio pra fora, não cabendo, só sendo engraçada, com guarda-sóis, gatos e cones de segurança.
A conclusão que se chega é que precisa crescer carne ali dentro, alguma coisa de dentro pra fora. Às vezes sinto as células se multiplicando, mitoses e meioses, e parece que vai. Devagar, mas vai.

Me dá um delírio aê

Eu tenho enxaqueca, mas nunca tive aura.
Já experimentei cositas alucinógenas, mas nunca tive visões.
Tomei porres, não muitos, mas nunca tive amnésia.
Fui ver o céu em lugares místicos, não vi sequer uma estrela cadente, quem dirá um ovni.
Nunca tive epifanias religiosas, o céu nunca se abriu.
Pessoas mortas só vi no velório. E elas nunca falaram comigo. Não depois de mortas.
Talvez falte uma pitada de sobrenatural na minha existência.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

TPM, uma faca de dois legumes

Até os 30 anos, eu sinceramente achava que TPM era uma invenção da revista Nova, um charme de mulher que queria variar a desculpa quando não estava a fim, ou que buscava uma justificativa biológica para seus pitís. Eu também não tinha cólica e achava isso uma grande frescura. Até que um dia tive e me dei conta de que já tinha sentido aquilo antes, mais fraquinho, e duh! aquilo era cólica. Depois dos 30, também descobri que TPM existe, é mala, faz a gente chorar ou ficar irritada, não é nem um pouco legal.
Hoje todo mundo também sabe que existe, mas o que era pra ser uma explicação racional e lógica para muitos problemas emocionais virou (mais) uma forma de desautorizar a mulher. A gente, é claro, é parcialmente culpada. Porque se a qualquer momento lançamos mão da TPM para justificar o que dizemos ou fazemos, estamos autorizando os outros a jogar isso na nossa cara. O resultado é que hoje não se pode mais ficar puta, porque já vem alguém dizer que você está na TPM. Antes se a mulher tava de mal humor, era mal comida. Hoje tá de TPM.
Vários problemas de saúde que antes tinham nomes genéricos se tornaram diagnósticos. Antes os idosos ficavam esclerosados. Hoje têm Alzheimer e uma série de doenças neurológicas diferentes. Mas enquanto isso não signfica um tratamento eficiente, são só termos médicos que caíram na boca do povo. Muitas vezes, são só especulações e portas abertas para o preconceito.
Por isso estou dando início à campanha "TPM não existe, é uma invenção de Nova". Acho que temos de desautorizar novamente a TPM para reinventar nossa fúria de uma maneira mais equilibrada.

domingo, 1 de junho de 2008

Vai encarar?

As pessoas estão começando a dizer as coisas na minha cara e, devo confessar, estou achando ótimo. Primeiro foi meu pai que, no amigo secreto do Natal, começou assim: "A minha amiga secreta é uma pessoa que reclama muito. Ela nunca está satisfeita com nada". Eu, que já estava me achando tão melhor, caí do cavalo. Descobri na hora. As outras pessoas foram mais discretas, mas eu logo saquei.
Agora mais dois amigos falaram isso de uma forma bem direta, eu diria. Foi isso que achei ótimo, porque tem gente que bufa mas nunca fala nada e deixar escapar essas coisas é bom, tira o ódeo do coração. O que achei melhor ainda é que não só não fiz nada pra tentar reverter a impressão, como pensei: "Bom, se você acha isso, problema seu". Não que eu realmente não saiba que estou reclamando horrores da vida, acima de qualquer recorde anterior. Mas é isso o que temos a oferecer no momento. Não gostou, pega eu.