quinta-feira, 29 de maio de 2008

Não vou me adaptar

Que me desculpem os otimistas de plantão, mas não estou gostando de tanto abaixar a cabeça. Vamos dizer que seja só uma fase minha. O país está ótimo; o governo que a gente quis e conseguiu eleger, que vimos tomar posse chorando de emoção, não é corrupto; a profissão que eu escolhi é digna e realmente fundamental para o mundo (o que seria de nós sem a cobertura incrível do caso Isabella, não é, minha gente?).
A impressão que eu tenho é que as pessoas não querem ouvir falar do que está errado para não terem de tomar alguma atitude a respeito. Eu sei porque também já estive em fases mais otimistas, ou até em momentos mais desesperados, em que sabia não ter energia pra tomar nenhuma atitude. Então preferia que não viessem me encher a cabeça com reclamações. Tudo bem. Vou tentar poupar essas pessoas de ouvirem minhas queixas, já sei que estou pregando no deserto.
Mas é que se alguma coisa está errada, não consigo dizer: "Ah, é assim mesmo, a regra era essa". Se a regra está errada, mude-se a regra, porra. Se a lógica é torta, sou eu que tenho que me adaptar? Ai, tô fora.

terça-feira, 27 de maio de 2008

De pensar morreu um burro

Já dizia a Emília. Ando pensando demais. Mal escrevi o post anterior e já me arrependi. Tá certo que nem disse o que para mim é um ogro. Até porque minha concepção de ogro deve ser meio excêntrica. Deve ser só o fato de eu finalmente estar me enquadrando. Estou sucumbindo ao pensamento corrente de "antes só do que mal acompanhada". Deve ser isso. Ou não.

Contos de fadas ou Glioma maligno

Eu brigo com muita coisa e tento brigar também com meus preconceitos. Mas não sou perfeita. Tem coisas que me intrigam. Outro dia estava pensando aqui comigo: será que a princesa Fiona realmente se apaixonou pelo Shrek? Tudo bem, ele é um cara boa praça, muito mais legal do que o príncipe para quem ela estava prometida (nem vou comentar a estatura do sujeito, para não correr o risco de ser tachada de preconceituosa de novo). Mas veja, o cara não deixou de ser ogro. Divertido, engraçado, mas ogro. E ela, tão descolada...
Apesar de toda a irreverência do filme, essa paixonite de mocinha pelo herói que a salvou, sei lá... E ainda tem o agravante de ela virar ogra para sempre, o que pode parecer simpático mas vai contra a sua natureza. Para mim, ela deveria ter ficado sem feitiço e bancado a mestiçagem, mesmo que isso gerasse descendentes inférteis...
Mas ontem, no episódio de Grey's Anatomy, tive outra luz. A Meredith suspeita que o cara tenha um tumor no cérebro porque ele era rico e lindo e se casou com uma garçonete meia-sola depois de 10 dias de namoro. O cara está no hospital porque passou a mão num filhote de urso, o que resultou num ataque feroz da mamãe-urso, um estrago. Ele sabia que não podia, mas fez. A Meredith achou estranho e foi investigar. Descobriu que o cara tinha glioma maligno, um tumor que afeta as emoções e faz as pessoas perderem o senso de noção. A pobre da moça, então, se dá conta de que é um sintoma... Triste e cruel. Mas será que não é o caso?

O interior na Paulista

Muita gente diz que São Paulo é uma cidade fria, gigante, que engole as pessoas. Para mim, é muito pelo contrário. Passando hoje pela esquina da Brigadeiro com a Paulista, lugar que freqüento desde criança, lembrei de já ter pensado no quanto isso é mentira.
Meu pai sempre trabalhou por ali, e hoje mora bem perto dessa confluência. Ele tem conta na banca de jornal, conhece todas as meninas do café, paga fiado na padaria. Já teve conta na ótica, quando as fotos eram em papel e ele mandava os filmes para revelar. As pessoas o cumprimentam na rua. Eu também morei ali perto e foi uma das fases mais legais da minha vida.
Claro que meu pai é uma pessoa do interior, que tem facilidade para se enturmar. Mas se alguém não se enturma, não vamos culpar a cidade, né? No prédio onde tenho escritório, há um café. Todo mundo se conhece, desce junto para o café à tarde. Grupos se formam, pessoas ficam amigas e levam isso para fora de seus locais de trabalho.
Outro dia estava num bar com uns amigos e junto estava um casal que hoje mora nos Estados Unidos. Foi chegando gente, o garçom foi dando um jeito, e lá pelas tantas tinha mais de 20 pessoas numa mesa para 8. Todo mundo encostado, ombro a ombro. O cara comentou que isso nunca aconteceria nos Estados Unidos, onde uma reunião para seis pessoas é festa.
Fato é que, seja em São Paulo ou em outras cidades brasileiras, as pessoas se enturmam. Talvez a diferença seja que aqui todo mundo se conhece no trabalho. Em cidades pequenas, pode ser que seja na missa ou na praça. Em lugar de praia, na praia. Não é melhor nem pior. É só São Paulo.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Banco é tudo igual

Esta é a oitava vez que vou contar essa história, sendo que as sete anteriores foram para algum funcionário do banco Itaú. Sempre achei esse banco um dos menos piores, era até que bem atendida, o sistema pela internet funciona melhor do que qualquer outro que eu conheço. Até que eu fiquei na pior e precisei deles de verdade. Aí eles viraram um banco como outro qualquer.
Tentando recuperar o crédito que os maletas tiraram da minha empresa, fui falar de novo com o gerente. Aí, como sou metida a engraçada, mandei a seguinte missiva para a criatura:

Depois de se separar do marido, a sócia (eu) teve problemas com o cartão de crédito ligado à sua conta pessoal no banco Itaú. A conta tinha sido aberta em 1996 e desde então a correntista teve seguro de automóvel, aplicações, cheque especial, cartão de crédito, PIC e tudo o mais que o banco oferece (e empurra). Nunca tinha tido nenhum problema de inadimplência. A dívida do cartão de crédito ficou aberta por pouco menos de um ano, até que a correntista foi contatada por uma empresa de cobrança, com quem começou a negociação para a quitação da dívida. A própria empresa de cobrança orientou a correntista a procurar seu gerente e iniciar uma negociação paralela com o banco, visando reduzir ao máximo o valor da dívida.
Como a conta é em uma agência-posto esquecida por Deus e pelo banco Itaú na Rua Itapeva, a cada dia uma pessoa diferente estava no atendimento. A correntista teve de explicar sua vida para cinco pessoas e cada uma fornecia uma orientação diferente. Foram mais de dez dias de negociações, com a postagem de propostas pelo sistema, e respostas do banco. Uma das pessoas chegou a citar a possibilidade de haver restrições, mas na hora de bater o martelo, o funcionário do momento afirmou que isso não aconteceria. Como a empresa tinha conta no banco também, tentou-se evitar ao máximo a colocação de restrições. Só depois de fechado o acordo é que foi informada do problema. Imediatamente, decidiu encerrar sua conta pessoal de mais de dez anos.


Agora que a gente não precisa mais deles, capaz de conseguir alguma coisa...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Epifania musical

A primeira epifania musical de que me lembro aconteceu quando eu tinha seis anos. Tinha feito a primeira série num coleginho perto de casa, que só ia até a primeira série. O bairro não tinha quase escolas particulares, então meus pais foram atrás de outras opções, em bairros mais bem servidos do que a Cidade Dutra.
A epifania aconteceu quando cheguei ao Magno, um colégio hoje playbíssimo na Chácara Flora. Ao lado do pátio, numa sala envidraçada, meus potenciais colegas estavam tendo aula de coral. Com a professora ao piano, e as crianças, da minha idade, cantavam Olê, Olá do Chico Buarque. Era tudo o que eu queria. Não podia haver escola melhor. Ali era o meu lugar.
Passei no teste, mas a escola não cabia no bolso da minha família classe média. Escolhemos outro colégio, onde fui muito feliz, mas nunca mais esqueci a cena e aquela sensação de pertencimento.

Mais de música

Quando eu tinha uns 10 anos, meu pai me levou pra ver Os Saltimbancos Trapalhões, filme que aliás tem uma trilha ótima. Ele nunca gostou de Trapalhões, mas esse a gente viu duas vezes por causa da trilha. Fomos ao Cine Barão, no Centro, e na saída o Adoniran Barbosa estava encostado no balcão de um bar, de chapéu e guarda-chuva. Eu é que vi. Era um ídolo, eu cantava as músicas todas. Puxei a manga do meu pai e perguntei: "Esse não é o Adoniran?" Era. Não é demais?
Tempos depois, meu ex resolveu fazer um documentário sobre os Demônios da Garoa e tive a oportunidade de conhecer todo o grupo. As histórias são incríveis e agora os dois últimos remanescentes se foram. O filme nunca foi montado, mas o material bruto é muito bom. Tem uma seqüência impagável com o Sabotage (talvez em sua última aparição em vídeo) e seus amigos cantando Luz da Light numa favela, com um beat box sensacional. Ainda torço pra virar alguma coisa.

Música na veia

Terça-feira fui ver Chega de Saudade, adorei. Acho que a direção é ótima, os personagens são bem construídos, um verdeiro Altman da dança de salão. E me achei muito privilegiada por conhecer praticamente todas as músicas do filme, que tem desde uma versão do hit das Frenéticas, Dancing Days, cantada pela Elza Soares, até Risque (meu nome do seu caderno...), um clássico da fossa cantada pelo Jamelão.
O cinema estava quase vazio e eu e a Sil praticamente cantamos junto todas as músicas. Realmente, minha cultura musical brasileira é vasta e diversificada. Resultado de muitas noites de seresta em aniversários na família da minha mãe.

domingo, 11 de maio de 2008

Histórias de avô

Eu tinha essa avô que era realmente muito engraçado. Ele não falava muito, mas gostava de fazer umas molecagens. Dava a bala de leite puxa-puxa que minha avó fazia para o cachorro, só pra ver o bicho ficar um tempão mastigando e tentando se livrar daquilo. E tinha umas frases de efeito e umas expressões que deixam minha tia ainda fula, só de lembrar.
Quando alguém mais novo fazia alguma bobagem, ou se metia a besta, ele se referia à criatura como "você, com o umbigo cheirando a óleo". Muito antigo isso, tem a ver com o óleo que se passava no umbigo do recém-nascido. Era muito petulante.
Outra expressão era "barriga cheia, goiaba tem bicho". Ou seja, quando você coloca muita comida no prato e depois inventa uma desculpa, dizendo que a comida tá ruim. Criança é mestre de fazer isso e meu pai, reza a lenda, tinha o olho maior do que a barriga. Sempre queria o maior pedaço de doce, até que meu avô o fez comer uma goiabada inteira depois de uma cena com a minha tia. Não adiantou nada, meu pai não aprendeu a lição e ainda é bem guloso.
Mas tem uma frase que deve ter influenciado muito os netos – se estivesse vivo, meu avô só teria uma bisneta, minha afilhada Laurinha, que só veio depois da minha prima muito pensar e analisar. A frase, uma das que minha tia mais odeia, é "depois que filhos tive, nunca mais barriga enchi". Cruel.

Na alegria e na tristeza

Um dia cheio de altos e baixos, esse de ontem, mas que colocado na planilha dá um gráfico positivo.
Começou com o encontro, que está ficando cada vez mais legal. Já tentei escrever a respeito e sempre me parece que não acho palavras suficientes para resumir o que a gente conversa, então me soa leviano e apago tudo. Então é "o encontro", é importante e pronto. Saí de lá com duas coisas na cabeça, principalmente. Minha dificuldade de receber elogios – preciso agradecer uma das meninas, a Tati, que agora é minha leitora e que foi sensacional comigo. Não passou logo, viu? Entrou e ficou guardado aqui, obrigada de verdade.
Matei o espanhol com dor no coração, mas precisava almoçar e continuar falando. Levei o Marcio no Gaia, um vegetariano do jeito que tem de ser. A comida é saborosa, gourmet, o lugar é lindo, especial mesmo. Sempre vou lá almoçar sozinha quando estou em Pinheiros, porque é tão tranqüilo... Coincidência total (ou conexão?) e encontrei a Tati de novo.
Passei a semana inteira encanada com o tal do casamento que fui ontem, de uma prima próxima mas que nunca vejo. Estamos super afastados desse lado da família, por coisas que só a família pode fazer por ela mesma. E minha mãe começou cedo a me perguntar o que eu ia vestir, como ia arrumar o cabelo. Me pilhou horrores, coisa que só minha mãe pode fazer por mim. Tive até um princípio de chiliquinho no cabeleireiro, porque resolvi fazer uma escova (para agradar minha mãe) e de repente me vi com um cogumelo na cabeça, igual à tentativa de Princípe Valente que me fizeram na primeira comunhão. Mas felizmente todo salão de cabeleireiro é meio divã, e esse tem uma dona muuuuito especial e um cabeleireiro que faz tudo pra me agradar. Conseguiram salvar meu bom humor e mandar Lizandrama Queen de volta pro lugar dela.
Aí vem a segunda coisa que não me saía da cabeça, a frase de uma das psicólogas que coordena o grupo. Falei que em casa a gente tinha aprendido a cumprir todas as obrigações, e que todas as nossas conquistas não foram mais do que obrigação. Ela disse que isso é muito comum, e que pensou até em mandar escrever na lápide: "Não fez mais do que a obrigação". Hilário. Toda hora que pensava nisso, ficava imaginando se eu também teria vontade de escrever isso na minha urna funerária, já que não quero saber de cemitério. Eu espero que no final das contas, só a morte seja não mais que a obrigação.
No fim, fui pro casamento, conversei com todas as pessoas da família de quem gosto, muito, estava me sentindo bem, ganhei elogios das pessoas mais improváveis, entre elas minha mãe. E até beijei, vejam vocês. Claro que em se tratando de mim mesma, enquanto ser humano, esse post tinha que terminar com mais uma dessas ironias do destino que só se abatem sobre mim. O cara trabalha com quê? Segundo ele, tinha uma loja de vestidos de casamento na Rua das Noivas. Vendeu, mas veja: só pode ser algum tipo de pegadinha. Divertida, mas pegadinha.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

TDQDNEF

Tem dia que de noite é foda, e tem que dia de dia também é.
Dentro do escritório tá um frio dos diabos, lá fora um calorão.
Fui buscar meu vestido de casamento, que comprei a contragosto, e não tá pronto.
Um sapato de festa custa 200 reais e eu só vou usar uma vez.
Mês passado não recebi todo meu salário e não tem um puto na conta da empresa.
A cliente não recebeu a nota então não vai depositar na data combinada.
Tenho que comprar um presente para a minha mãe, a pior pessoa pra quem alguém pode ter que dar um presente.
Um velho teve um enfarte no meio da calçada e dois polícia estavam tentando ressuscitá-lo.
Tomara que o velho não morra.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Impressões sobre a Virada - 4

O grande lance são as pessoas. Em cada show, você encontra os mais variados tipos de seres. Quando eu era adolescente, a maioria não era de tribo alguma. Mas quem era levava isso muito a sério. O figurino e o cabelo eram os sinais aparentes. Um cara de cabelo moicano era punk e não usava camiseta de banda heavy metal, como o que eu vi no metrô República na noite da Virada.
Hoje as tribos são muitas e os limites, borrados. É bom isso, né? Eu olho e na hora acho um pouco estranho uma molecada dançar pogo no show duma banda que pra mim é pop como o Ultraje a Rigor, ou ver os hippies do trance. Mas as coisas se reprocessam, a centrífuga musical mistura, separa as sementes, coa, joga fora o bagaço, e o resultado é esse suco incrível, que antes só se via nos corredores das Grandes Galerias e semana passada estava ali, em todas as praças, pra quem quisesse ver.
Pessoas, contraditórias, com gostos ecléticos e querendo ser e sobressair. Pessoas.