quinta-feira, 27 de março de 2008

Prazer, Perséfone

Esta semana até pensei em sofrer. Dei uma resvalada na melancolia, que resultou no versinho deprê de ontem — e olha que eu e a poesia não nos bicamos muito. Mas fiquei com preguiça.
Amigos, placebos emocionais. O que seria de mim sem eles? Não vou explicar agora o conceito por mim criado de placebo emocional, porque também estou com preguiça disso. Mas esta semana eles foram fundamentais.
E ainda recebi a visita de uma amiga, daquelas que você vê uma vez e já sabe que vai sempre fazer parte da sua vida, mesmo que não se encontrem nunca mais. Pensei tanto nela semana passada, e do nada me ligou pra me convidar pra participar de uma pesquisa muito legal, além de me mostrar o livro que está escrevendo e ilustrando. Encheu meus olhos de lágrimas várias vezes.
E me lembrou o que já tinha me dito da outra vez. A descida ao inferno está apenas começando. E não é que estou achando bom?

quarta-feira, 26 de março de 2008

Vácuo

No meio de tantas palavras
Pulsa
Coisa que não se explica
Tensa

Palavras não bastam
Pra quem delas vive
Oca

BBB é cultura

Meu pai, que é uma pessoa mega antenada, hoje me contou que fez uma grande descoberta graças ao BBB. Ontem ele ficou sabendo que o Rafinha é emo. A gente até discutiu o conceito, e minha mãe e ele chegaram à conclusão de que o Rafinha não é tão emo assim. Para dar um exemplo, citei o último filme do Homem Aranha, em que o herói se transforma em Emo-Aranha. Não viram, mas entenderam o conceito.

Alô, dona Lizandra

É de manhã, vem o sol e com ele a ressaca. A gente perde a hora, mas não por muito tempo. Logo toca o telefone e é ela, a fofa representante da LBV. Não existe telemarketing mais infernal do que o da LBV. Dá um ódeo no fundo do nosso coraçãozinho. Especialmente porque as fofas ligam antes das nove da manhã, com aquela simpatia toda, te chamando de dona. E não basta a gente ter caído no conto da LBV uma vez, e aceitado dar uma contribuição mensal, que elas ligam agradecendo horrores e logo dão o bote: uma hora é o ovo de páscoa, outra o material escolar. E foi assim que eu acordei hoje.
Bebe na terça-feira, desgraçada, bebe e perde a hora da academia pra você ver. O castigo vem pelo telefone.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Final aberto

Toda vez que minha ex-sogra via um filme com final aberto, ela viajava no que tinha acontecido depois. Aí, se não ficava claro que o casal tinha ficado junto, ela dizia: "Ah, mas depois eles se encontraram e colocaram tudo em pratos limpos". Não, minha gente, final é aberto é final aberto. Serve pra aprender que nem tudo nessa vida tem explicação. E talvez seja melhor que não tenha mesmo.

Banho de água fria

Pesquisas científicas comprovam que banhos de água fria são muito benéficos à saúde. Têm o poder de reenergizar o corpo, fazendo o sangue circular mais rápido. E a água fria leva pensamentos e sentimentos inúteis, dando uma providencial congelada no cérebro. Tô saindo pra academia, esperando encontrar uma aula de artes marciais, podendo exercitar, assim, umas voadoras.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Em prol do silêncio

Se tem uma coisa que acaba com um filme é uma trilha ruim. No Brasil, tenho a impressão de que quase todo diretor de cinema to be tem um amigo músico to be. Então quando o diretor vai fazer um filme, já está implícito que seu amigo vai fazer a música. Mesmo quando o filme não precisa de música alguma. O resultado costuma ser uma música incidental constante, irritante, especialmente nos curtas.
Ainda tem as trilhas que tentam cutucar a emoção do espectador, criando clima de novela. "Agora ri", diz a trilha. "Agora chora." É um alívio quando um filme tem músicas boas e os silêncios fundamentais. Uma das melhores trilhas de filme brasileiro pra mim é a do "Houve uma vez dois verões", do Jorge Furtado. Tem várias bandas gaúchas fazendo uns covers sensacionais. A do "Meu nome não é Johnny" é bacana também. E o filme tem silêncios, ufa.
Mas trilha ruim não é privilégio nosso. Ontem assisti "Simplesmente Martha", que é o filme original alemão que virou a versão americana "Sem reservas", com a Catherine Zeta-Jones. Jesus alado! Que música medonha! Começa um pianinho até que razoável que vira um solo de sax digno do Kenny G. Cada vez que o sax começava, dava um arrepio de vergonha alheia. O filme tem uma mão mais leve na direção, os atores são ótimos, a transição da personagem principal é mais sutil. Mas a trilha... de matar.
Vi "Sangue Negro", do PTA, no domingo e achei a trilha meio pesada. O começo do filme é sensacional, devem ser mais de 20 minutos sem nenhum diálogo. Aí a música funciona bem. E como o filme é do PTA, não é uma trilha convencional. Mas tem horas que fica alto demais, trágico demais. Fiquei reparando na imagem pra ver se teria a mesma força sem a música por trás. Acho que não teria não.

terça-feira, 18 de março de 2008

Mais vale um gosto

Sim, eu atraio pessoas peculiares — para não dizer que sou pára-raio de loucos, como algumas amigas gostam de me chamar.
Estava lembrando hoje de uma figura que trabalhou em casa. Ela adorava cinema e televisão e ficou louca quando soube que meu ex trabalhava com cinema. Ela era uma pessoa de opinião.
Naquela época, a Record exibia uma novela com o Mauricio Mattar. Ele era um mega empresário, que numa linha cruzada conversa por acaso com uma presidiária e os dois se apaixonam (!). A empregada do Mauricio Mattar era uma atriz amiga nossa, e na novela se chamava Matilde. Quando contamos para a moça que conhecíamos aquela atriz, ela ficou louca. "Nossa! A Matilde? É minha atriz preferida! Ela e o Seu Cocada." Seu Cocada, para quem não se lembra, era um personagem absurdo de um programa de humor desses de quinta catigoria, interpretado pelo Rony Cócegas.
Cinematograficamente, a moça gostava basicamente de filmes de terror. Seu predileto era "Chuck, o Brinquedo Assassino", que ela carinhosamente tinha apelidado de "o Boneco". Como o marido dela trabalhava numa locadora, ela tinha conseguido uma cópia do filme, que sacava sempre que a novela estava chata. Quando ela chegava de manhã, o Paulo perguntava: "Então, o que você assistiu ontem?" Ao que ela prontamente respondia: "Ah, a novela estava chata, então vi o Boneco".

segunda-feira, 17 de março de 2008

Casa vazia

Pensei que hoje ia fazer calor e eu ia abrir as janelas, que era a única coisa de que sentia falta com a galera morando aqui em casa. Mas agora Laurence e gatas foram embora e a casa está assim, vazia. E eu me pego prestando atenção na porta do quintal ou da sala, pra ver se alguém não escapuliu.
Levei as três ao aeroporto. A pobre Chiquinha, num cesto rosa-barbie, totalmente zureta. E a Caliope ainda meio dopadona do tal do remédio pra dormir, embarcada com as malas. Foi triste, triste ver as três indo embora. Realmente, a gente acostuma com as coisas mais incríveis.
Bon voyage, meninas!

quinta-feira, 13 de março de 2008

A vida é feita de som e de culpa

Uma conversa furtada no café da ruelinha do ABN, aquele beneficente. Uma atendente diz para a outra:
— Uma amiga minha, sabe? Trabalha no Amor aos Pedaços. Na véspera do Natal, ela resolveu pintar a unha de vermelho de manhã, porque ela ia sair às 10 da noite. Cê sabe que quem trabalha com comida não pode pintar a unha, né?
— Sei.
— Então, daí uma cliente viu e falou isso pra ela, que ela não podia pintar a unha.
— Hum.
— Aí ela respondeu: "A senhora vai passar o Natal com a sua família?" E a mulher, claro, respondeu que sim. "E a senhora vai se arrumar, fazer o cabelo, a unha?" Claro, a mulher respondeu. "Então. Eu também", ela falou. "Mas só saio daqui às 10, né? Então tive que fazer a unha de manhã."
Segundo a atendente, a mulher ficou tão sem graça de ter peitado a vendedora que deu 50 pilas pra moça ir fazer o cabelo.
No fundo, a mulher não tava errada. Ninguém morre se passar o Natal sem pintar a unha de vermelho. E em qualquer lugar sério, quem trabalha com comida não pode pintar a unha, porque esconde a sujeira, porque pode descascar no prato alheio.
Mas a criar caso realmente é um problema sério neste país.

terça-feira, 11 de março de 2008

Gaydar off

Domingo, final de tarde, depois da praia, é hora do Bailinho. Uma baladinha muito simpática em Ipanema. Dá de um tudo e a música é uma mistureba só, do jeito que eu gosto. O DJ é um ex-ator mirim da Globo, que manda bem. Toda semana ele convida uma celebrity pra criar um set. Neste domingo, foi a Luana Piovani. Depois tocou Patife, no esquema Bailinho. Menos drum'n'bass, mais musiquinhas dançantes. O cara é muito pro.
Fato é que me acabei de dançar, mas percebi que por lá meu gaydar não funciona. Todo mundo esbanja saúde, todo mundo é malhado, queimado de sol. Eu olhava pra um e pensava: hummm, acho que esse é hétero... E logo em seguida: hummm, mas e se for? Espelho, espelho meu: será que eu aguento alguém mais vaidoso do que eu? Difícil. Vou continuar compartilhando meus xampus com meus amigos gays de verdade, que eles merecem. Higiene é fundamental, mas pra homem um xampuzinho 2 em 1 tá mais que bom, né?

sábado, 8 de março de 2008

O vagão rosa

Coincidências não existem, certo? Bem, ontem de manhã li um post muito bem escrito e argumentado no blog Duas Fridas, de duas jornalistas cariocas, questionando a criação de dois vagões dedicados às mulheres no metrô do Rio.
Entrei por acaso, vinda de outro blog, li, parei pra pensar. É um questionamento importante sobre essa idéia de segregar as vítimas pensando em protegê-las. Não vou nem me estender, porque a argumentação da Helê é tão boa que não carece. Vai lá e lê que compensa.
Vim pro Rio no mesmo dia, pro lançamento do Guia de Festivais, que eu orgulhosamente editei, e depois fomos jantar na Lapa, num restaurante tradicionalíssimo chamado Nova Capela. Conversa vai, conversa vem, comentei que tinha tomado o Metrô e a Beth lembrou dos tais vagões rosa. Claro que na hora citei o post e disse como achava um absurdo essa história, como nunca me senti contemplada pelo Dia da Mulher, como acho que esse tipo de coisa reforça a vitimização.
A Zita argumentou que isso é um paliativo, mas na prática pode ajudar quem realmente se sente mal. Enfim, também. é verdade, mas realmente o problema é mais embaixo, é falta de respeito humano, é selvageria. Prova disso é que na sequência todo mundo começou a contar histórias. Estávamos em seis mulheres e todas tinham alguma história de assédio para contar. Não eram só gritos de "gostosa" na frente da obra (o que também é péssimo e me deixa puta da cara). Eram histórias de homens de pau pra fora, de encochamento, de masturbação explícita.
O primeiro pinto que eu vi foi assim, de um sujeito que me parou na rua, dentro de um carro, fingindo querer uma informação. Quando me aproximei, lá estava o bicho pra fora. Eu devia ter uns 12 ou 13 anos. Não foi a última vez, tenho várias outras histórias. Alguém discorda que isso é grotesco? Está na hora de criar caso. Decidi que vou reunir essas histórias. Ainda não sei o que vou fazer com isso. Mas não dá pra deixar barato.

Certezas que se vão

É engraçado pensar em como tinha tanta certeza de tudo e como hoje acho tudo relativo, impreciso, improvável. Quando prestei vestibular no segundo colegial, o tema da redação era, basicamente: "você acha que tudo é relativo? argumente". A prova trazia um quadro de Magritte com um cachimbo e uma frase: Isso continua a não ser um cachimbo.
Depois vinha um verso do Pessoa que dizia:
"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia."
Achei muito fácil dizer que sim, tudo era relativo, e optei por uma argumentação cética dizendo que não, tudo aquilo era muito poético, mas a vida é dura para quem é mole. Estava no segundo colegial, podia trucar. Deu certo, convenci, e passei em sânscrito, que era o que a gente prestava pra treinar naquela época.
No ano seguinte prestei de novo, entrei em jornalismo, mas não me lembro do tema da redação. Nunca esqueci daquela, porque a questão que nunca me abandonou. A vida é o que é? Ou tudo é relativo?
Na verdade, ainda não sei. Tem coisas que são, ou aparentemente são, daqui a pouco não são mais, e assim vai. Não tem grandes dramas, é só esquecer de querer ser tão coerente e assumir a esquizofrenia.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Do perrengue que é comprar um biquíni

Das coisas mais complexas na vida de uma mulher mais pros 40 do que pros 30, com tem senso de noção e pernocas roliças (leia-se bunduda com uma autocrítica de fazer inveja aos mais complexados) está o episódio de comprar um biquíni.
Você olha a parte de baixo na loja, ainda pendurada, e tem a impressão de que aquele é um modelito Bay Watch, o paraíso dos biquínis santropeito. Daí você experimenta a bodega e o elástico enfinca nas suas banhas, dividindo a lateral do seu corpo em duas partes igualmente deselegantes.
Sem contar que a loja obriga você a experimentar por cima da calcinha, o que eu acho justo. Porém, o resultado é que você nunca sabe quão enfiada ficará a parte de baixo até estar em casa com ela e não ter mais direito a troca.
Quando tudo isso ainda acontece com uma pessoa paulista que vai passar o fim de semana no Rio de Janeiro, só há dois resultados possíveis: um maiô inteiro ou um biquíni preto bem basicão. Lá vou eu pro Rio com meu novo biquíni preto de alças doiradas. Chique pra caralho, e ornando com minhas havaianas indianas.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Elogios espantosos

Comentei com minha amiga de adolescência, que reencontrei recentemente, sobre o quanto cansa estar sempre fazendo tudo direito, num país onde reina o mais ou menos, o medíocre, o assim tá bom.
Ela disse que às vezes se espanta quando recebe uns elogios do tipo: "Nossa, você tinha que organizar uma reunião e organizou! Parabéns!". É realmente espantoso.
Alguém pode me dizer se vai ser sempre assim? Não é por nada, só pra preparar o espírito.

terça-feira, 4 de março de 2008

Equívoco

Eu sempre digo: no fundo, essa história de jornalismo, não sei não, viu? Foi só porque eu precisava fazer uma faculdade. O que eu queria mesmo mesmo era ter uma papelaria ou uma banca de jornal. O que eu gosto é de papel, canetinhas variadas, caderninhos, badulaques em geral. Ou uma loja de armarinho, cheia de botões, linhas, lãs... Ia ter muito menos penso, isso ia!

domingo, 2 de março de 2008

Dear Prudence, won’t you come out to play?

Quando você encontra pessoas que não são fúteis e são basicamente felizes, simplesmente felizes, com todos os problemas que têm, você pode se sentir fútil. Mas eu não estou me sentindo fútil. Estou com vontade de me afastar dessas pessoas. Não quero contaminá-las com as minhas inquietações.

sábado, 1 de março de 2008

Água que se bebe

Num encontro histórico na última quarta-feira, Raquel enumerou para um amigo nosso as minhas contradições nesses quase 20 anos que a gente se conhece. Todas as vezes que disse "dessa água não beberei" e depois quase me afoguei na mesma água. Não é fácil constatar isso. Porque, basicamente, significa que fico por aí pontificando e depois faço tudo ao contrário. E como discrição não é a palavra que me descreve, todo mundo fica sabendo do antes e do depois.
Aconteceu isso com bichos. Eu nunca dei a menor pelota pra cães e gatos, e depois tive duas cachorras de dormir na cama, abraçar e beijar. E uma até hoje tenho certeza de que não é uma cachorra, é minha alma gêmea, meu deamon que eu não vejo há um ano. Agora as duas gatas aqui de casa vão embora e sei que vou sentir falta até da maligna traiçoeira, que nem me arranha mais.
Acontece sempre que eu decreto que uma coisa é definitiva. Sempre que eu defendo um ponto de vista com veemência. Porque eu mesma sempre procuro o outro lado. Desde o colégio, sempre me aproximei das pessoas menos queridas, pra ver o que mais tinha ali. Com isso, estou sempre cercada de gente polêmica. Mas quase sempre tive boas surpresas. Então nada melhor do que cair em contradição.

Amiga bissexta

Lulu é minha amiga bissexta, não por encontros esporádicos mas porque é a única pessoa que conheço que nasceu no dia 29 de fevereiro. E alguém que nasce num dia que só acontece a cada quatro anos não é uma pessoa comum. É a única unanimidade que não é burra. Burro seria alguém que não visse o que existe atrás daquele sorrisão, daquela ingenuidade que ainda sofre de ver que tem gente que não é assim, que tem gente ruim. E ela se esforça pra provar o contrário, insiste.
Ontem ela fez seu nono aniversário e de olhar pra todos aqueles amigos reunidos vi que ela tem sido tudo menos bissexta na minha vida. Pra todos os momentos, todas as birras e chatices, pra muitas gargalhadas também. Numa festa por onde mais de 50 pessoas passaram, eu conhecia todas - da família aos amigos mais distantes. Porque ela me carregou pra todo lado com ela, dividiu seus amigos e problemas, jantares, cafés-da-manhã e almoços. Amiga, 366 dias por ano.

O Nada persiste

Passou uma semana, hoje o barulho era do caminhão de concreto, oito e meia da manhã. Laurence tem razão.